sexta-feira, 4 de abril de 2014

Um adeus ao político e professor

Kumba Yala na ONU

Fonte: Internet

Kumba Ialá ou Joaquim Koumba Yalá ou ainda Mohamed Koumba Yala nasceu a 15 de Março de 1953 e faleceu hoje, 04 de abril de 2014 em Bissau aos 61 anos. Filosofo, Teólogo, Jurista, Político e ex-presidente da República da Guiné-Bissau. Empossado para este cargo à 17 de Fevereiro de 2000, onde permaneceu durante 3 anos até ter sido deposto num golpe militar no dia 14 de Setembro de 2003, pertencente ao grupo étnico Balanta, Estudou Teologia e Filosoia  na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa e em Bissau, Yalá estudou Direito. 

Foi diretor do Liceu Nacional Kwame N’Krumah, onde também lecionou Filosofia e Psicologia. Polémico e extremamente excêntrico na política, Kumba Yala foi militante do PAIGC, tendo sido membro ativo da Juventude Africana Amílcar Cabral (JAAC) até a sua expulsão em 1989. Militou por pouco tempo ao lado do histórico Rafael Barbosa na Frente Democrática Social (FDS) e foi fundador e durante longos anos foi presidente do Partido da Renovação Social (PRS) que é a segunda maior formação política da Guiné-Bissau. Atualmente vivia na Guiné, depois de um longo exilio em Marrocos.

Ordidjanotando

Kumba Yala, foi meu professor de Psicologia no 10º ano (1º ano do curso complementar), no mítico Liceu Nacional Kwame N’Krumah, naquilo que se pode chamar de um breve retorno ao liceu onde foi diretor, e onde gerou várias controvérsias. As nossas aulas eram dominadas pela política, chegava na maior parte das vezes atrasado, queixando-se da falta de transporte, uma vez que trabalhava  no ministério dos Recursos Naturais que ficava na altura, no bairro de Santa Luzia (QG). Imagina o leitor a minha (e dos meus colegas) aptidão numa disciplina como a Psicologia, tendo durante cerca de um semestre um professor deste gabarito.  

Enquanto político foi sempre controverso, conseguindo no entanto, um grande feito, transformar o PRS na segunda maior força política nacional, deixando para trás partidos como RGB-Movimento Bafatá. A sua passagem pela presidência foi extremamente desastrosa, não só pela falta de perfil enquanto figura de proa, mas fundamentalmente, pela constante instabilidade na coabitação com os governos que foi criando. Os 3 anos do seu mandato foram marcados, por uma roda-viva de governos e nomeação ministeriais, diz-se que nunca se produziu tantos decretos de nomeação presidencial em toda a estória da Guiné-Bissau.

Ou seja, muitos dizem que o ex-presidente Kumba, banalizou o aparelho de Estado e conseguiu com a sua inconstância comportamental, ser o seu próprio e único grande inimigo, diz-se em alguns circuitos que, desconfiava da própria sombra. Perseguiu opositores, reprimiu a comunicação social com tentativa de silenciamento da emissora Bombolom, que foi sempre hostil a sua forma de governar, ameaçou ocupar o país vizinho Gambia, era tido como anedota na maior parte dos certames internacionais, considerou o ex-presidente português, Mario Soares, neocolonialista e, chegou a afirmar de que "era mais inteligente do que Amílcar Cabral" num comício na cidade de Bafatá, justificando essa afirmação, pelo fato de ter conseguido viver mais tempo do que o patrono da independência guineense, pois na altura tinha 51 anos e Cabral foi morto aos 49 anos, estávamos em 2005, na segunda volta das eleições presidências,  e ele apoiava Nino Vieira. 

O tempo de exílio em Marrocos, despertou nele a vocação pelo islamismo fazendo com que, converte-se, no islão, embora tenha passado pelas escolas católicas na Guiné e no sul de Portugal, nomeadamente em Alentejo, durante a juventude e apesar de ter frequentado a Universidade Católica Portuguesa. Introduziu a questão étnica no debate político guineense, escreveu um livro, com supostas teorias filosóficas, com trocadilhos que incluem um tal de “macaco da Indochina” e a “beleza de uma mulher”  e vai ser lembrado também para sempre, devido ao fato de gravar algumas conversas tidas nas audiências que concedia enquanto presidente da república, que depois mandava reproduzir nas rádios nacionais.

Benfiquista (nesse aspecto partilhávamos o mesmo gosto) de corpo e alma prometeu levar o Benfica de Portugal a uma digressão pela Guiné, e numa visita oficial por terras lusas, agendou uma visita à última hora ao Estádio da Luz, em Lisboa, que deixou os serviços protocolares em desespero.

Foi providente na sua última decisão política, retirando a sua candidatura presidencial, o que fez com que fosse ferozmente criticado pelos os companheiros do partido que criou, por ter optado apoiar um candidato independente.

Uma vida que daria para escrever um grande livro ou um roteiro de filme emblemático, entre o estilo cômico e de aventura, alias não é inocente o inicio deste texto com os vários nomes que foi tendo em vida. É que, para além de tudo o que se conta sobre ex-presidente Kumba Yala, no fundo existe uma grande verdade, ele foi o maior entertainer político na estória da Guiné, e convém realçar que provou o seu sentido patriótico desacerbado, muito das vezes incompreendido, quando antecipou o golpe de Estado de 12 de abril de 2012. 

E nesta hora de dor e consternação, pela sua morte, resta-me expressar as minhas sinceras condolências a família e os sentidos pêsames a todos os guineenses e amigos do malogrado.


Paz a sua alma!!!