O – E quais os mecanismos que faltam ser imprimidas à partir da Guiné-Bissau, para que o papel da diáspora seja cada vez consolidada.
C.S. – O Governo deve promover as práticas transnacionais, tanto no aspecto económico, como político. Há que reconhecer e aceitar o direito dos imigrantes de participarem nos actos eleitoras. Os eleitores residentes no estrangeiro devem ser registados oficialmente, para que haja legalidade no processo. Deve-se recapitular os direitos e deveres dos emigrantes na nossa Constituição.
Os emigrantes poderiam desempenhar um papel decisivo na reconstrução e desenvolvimento do país, mas para isso, o Governo terá que preencher esses requisitos que mencionei, para que a diáspora acredite na franca abertura dos governantes e sinta a necessidade de participar. Perde-se muito tempo em burocracias, e falta uma política de emigração bem definida e formas de incentivar, os guineenses que vivem fora do país. Isso faz com que, muitos investidores desistam, procurando arenas mais fáceis, para investir. O Governo tem por obrigação, destacar mecanismos de proteção legal e institucional em prol da defesa do emigrante e da sua integração.
O - Qual o olhar que tem, sobre a situação que se vive no seu país?
C.S. - Vejo à Guiné-Bissau perante um dilema do descalabro político. Há uma falha na prevenção das boas práticas, que são fundamentais para uma boa gestão da coisa pública e governação. Os políticos já não têm força, estão acabados, diria mesmo mortificados, parecem não constituir alternativa para os governantes. Parecem não ter uma solução para as dificuldades que o Povo guineense tem pela frente. A Guiné neste momento, tem dois inimigos fatais, os quais devem ser temidos: o lixo e as epidemias. Há bairros aonde as pessoas dormem próximo do lixo ou da lixeira. Muitas crianças aí encontram os seus brinquedos e forma de queimar o seu tempo.
Temos problemas com a energia eléctrica, e as redes de água potável estão enferrujadas com tantos anos sem serem reconstruídas, os esgotos estão entupidos, e isso poderá também constituir problemas. Não se fez até então a re-urbanização dos bairros, as construções estão desordenadas, existem casas a serem construídas umas coladas às outras, sem delineamento, nem plano urbanístico. Existe a necessidade de se impor a ordem e de fazer valer a lei. Estamos numa fase crucial na Guiné e à Mudança, não pode esperar por muito mais tempo, porque o país e o povo não poderão sobreviver!
A Guiné está a ser invadida diariamente por diversos comerciantes de países vizinhos e não só, que se aproveitam do momento e da situação, para se instalarem e enriquecerem-se à custa da miséria da população da destabilização do país e falta do controle económico/fiscal.
O – Quais as mudanças fundamentais que devem ser efetuadas na Guiné, para que tenhamos um futuro promissor?
C.S. - Falta reconquistar a nossa identidade, e reimprimir os valores nos projectos presentes e, no futuro. Fazer valer a segurança e defesa do país e expressar a nossa síntese cultural. É preciso uma legislação que regulamente eficazmente as normas financeiras nacionais. Deve-se pôr termo ao ciclo vicioso gerado pelas diferentes crises, tais como: golpes, guerras, narcotráfico e assassinatos. Sem isso, não teremos o fortalecimento social e económico. Os órgãos de comunicação poderiam emitir mais programas educativos e formular estratégias de comunicação efectivas que visem uma mudança de comportamento.
O nosso governo está fragilizado e moribundo! Um país só pode oferecer protecção à população, promovendo paz e segurança, e através da sua coesão e de um apoio massivo das comunidades e das pessoas. Infelizmente à Guiné está longe dessa realidade! As Instituições legais ou judiciais, as de prestação de serviços nas áreas de saúde e educação devem ser fortalecidas, para que se altere a situação caótica em que o nosso país se encontra mergulhado. Já é altura dos nossos políticos amadurecerem e despirem a capa do egoísmo, e olharem para o país, e preencher a lacuna entre promessas e realidade. Já chegou a hora para à Mudança!
Nota Ordidja
Dividido em três partes conseguimos trazer ao leitor a nossa última grande entrevista. Desta vez escolhemos uma guineense na diáspora e uma mulher de “armas”. Celina Tavares Spencer, vive há vários anos nos Estados Unidos de América. Mãe, trabalhadora incansável (dois empregos), lutadora pela causa duma melhor integração dos filhos da Guiné nos EUA, foi recentemente eleita presidente da Associação de Imigrantes guineenses (GBCA-USA) naquele país.
Foi para Ordidja gratificante a total abertura e pronta disponibilidade manifestada desde o nosso primeiro contacto, com a nossa entrevistada. E para matar alguma curiosidade, revelamos que esta entrevista foi realizada graças a nova tecnologia. Enviamos as questões propostas para a entrevista via Internet (correio electrónico) e depois de alguns dias e como ela mesmo nos escreveu num dos mails “desdobrando-se em três” foram-nos enviadas as respostas.
Resta-nos apenas agradecer do fundo do coração, a Celina Spencer, por ter aceite o nosso convite. Gostaríamos entretanto de manifestar a nossa admiração e deseja-la sucessos nesta árdua tarefa de presidir uma Associação com ambição, e que tenha grandes vitórias na nobre missão de lutar para uma maior e mais justa integração dos guineenses nos EUA. Que tudo seja coroado de êxitos, e daqui a três anos, quem sabe numa próxima entrevista, seja precisamente para retratar esses factos! Bem-haja!