Samba Bari
Por: Samba Bari
Neste momento, em todo o canto ou
esquina em que possa encontrar um guineense ou amigo da Guiné-Bissau, a questão
do fundo é de mais um levantamento militar, ou seja o golpe de estado que
deitou a baixo o governo legitimamente instituído.
Antes de mais, começo aqui por
manifestar em viva voz a minha condenação desse meio usado para chegar
alternância do poder. Porque a opção de alteração do poder por via de um golpe de Estado, é uma
solução anticonstitucional. Há quem o diga e eu também defendo a mesma tese.
Em todo o caso! Não é que a força de
uma dança consegue mover a pista do baile, ou por sairmos fora dela e estender
a mão para o céu, faz com que todas as estrelas estejam ao nosso alcance… Ou
então para as coisas que não podem ser mudadas se mudam.
Só que, é muito triste envolver-se na
impaciência, ou no interesse pessoal para preferir a derrota prévia. Muito
embora, quem dúvida tanto na sua capacidade de alcançar a vitória, arrisca-se
desperdiçar a oportunidade de merecer.
Na verdade, a República da Guiné-Bissau é um país que tem causado
tantas preocupações ao mundo. Não pelo tamanho territorial bem pequeno, nem
pelo número de população insignificante. Mas sim, devido ao amplo poder e
coragem de fazer crimes, assim como a prática de manobra flexível e atípica de
ilibar o mal feitor, ou de fazer passar as responsabilidades criminais de forma
tácita e desprezada.
Hoje a semelhança de muitas vezes, o povo esta na rua de corações
nas mãos perante mais um levantamento dos nossos militares. Mais um ato macabro
que está a criar muito embaraço, e a fazer correr muita tinta a volta de uma
causa comum.
Perante este facto em dia, deu-me gosto de ver e ouvir ondas de
reações, de manifestações e gritos de condenação na diáspora. Porque afinal, o
sentimento de patriotismo e de interesse para a República da Guiné-Bissau está
no nosso sangue.
Só que, no meu ponto de vista, as ondas de solidariedade devem ser
extensivas a luz que reflete uma visão global de todos os acontecimentos
passados para se associar com este recente, de formas que todos nós em conjunto,
possamos dizer “sim” a intervenção da comunidade internacional, mas de uma maneira
moderada, sábia para nos ajudar a instaurar antes de mais, uma judicatura
consistente e responsável. Para combater a impunidade e fazer um STOP aos atos
propositados sem medo de enfrentar a justiça, que neste momento não existe. E consequentemente, fazer a reforma o mais rápido possível, nos
sectores da Defesa e Segurança do país.
Mas “não” o envio de militares armados o que não justifica, porque o país
não tem partes beligerantes em conflito e nem está em guerra. Simplesmente há
falta de justiça e os processos mal resolvidos, é que andam a empolgar os
espíritos. Fazendo com que muitos estejam desanimados de virtude, a gozar com a
honra e de terem muita vergonha de agora serem honestos.
Já houve momento em que a intervenção militar tinha cabimento, em
1998/99 por exemplo, para interpor as partes em conflito de forma a evitar
muita perda de vida, o que não foi o caso. Ajudar resolver um problema é mais fácil na sua fase de discussão,
não no seu confronto físico. Porque há muito que se sentia que nada ia bem, que
o país andou em clima de tensões constantes, com momentos de mal estar, muito
antes do falecimento nosso Presidente.
Porque não interviram nessa altura para salvar o que agora se
consumou num momento muito controverso e improprio?
Sobre a MISSANG, num artigo que intitulei de “Pesado Dilema de Intervenção
Estrangeira” que foi publicado no jornal “Nô Pintcha,” pude manifestar a minha posição contra essa missão. Só
que infelizmente, embora com tanta resistência, não foi possível consolidar a
persistência, devido a incoerência do “modus vivendi” dos decisores do país
habituados a ambição e mistério... Tudo foi possível.
Força de intervenção para ajudar estabilizar, é uma expressão fina
usada para subentender a rendição dos dirigentes do país, perante a
incapacidade e poder de estabilizar o país. O que demonstra o momento muito
debilitado que o Estado vive perante a progressão de situações incontrolados que agrava cada
vez mais.
Eu acho que Angola fazia muito bem se retirasse esses militares… Porque
afinal, se o objetivo inicial da missão designado MISSANG foi de ajudar a pacificar,
e hoje está ser causa do desentendimento, de revolta e até causa de um golpe de
Estado… O melhor, é irem-se embora para se livrarem de ser causa e parte dos
problemas.
Certo é que faz confusão ver o posicionamento de Angola, na pessoa
do seu MNE a mover céu e mar, implorando a intervenção militar na Guiné, o que
tudo indica que é a pretensão dessa MISSANG, erradicar o país, mudando
simplesmente de nome e de objetivo.
Isso em parte, dá motivos de pensar e equacionar várias intervenções
do porta-voz do Comando militar DABANA NA WALNA, que tem uma explicação
consistente e coerente, sobre a iludida “CARTA SECRETA”.
Não estando com isto a dar razão ou apoiar o golpe militar… Simplesmente
estou a fazer referência de algo muito falado, para poder alertar que
infelizmente, Angola embora um país amigo, não é um exemplo da democracia. É um país que
tem tantos problemas como o caso de Cabinda, mas que nunca desejaram um braço
armado estrangeiro a intervir em Angola.
Daí o valor do ditado: “QUEM
QUER DAR EXEMPLO TEM QUE SER EXEMPLAR”
Nunca podemos esconder que a Guiné-Bissau sempre foi infeliz em
orientar o seu processo democrático, num clima de coabitação aceitável. Mas que
isso nunca quererá dizer que uma intervenção estrangeira militarizada é uma
garantia segura de trazer tudo de bom que outrora nos faltou.
Meus
irmãos e compatriotas:
- É
bom acautelar com os semeadores desconhecidos, porque pode existir muita
maldade escondida dentro de um sorriso sedutor… Podendo com isto deixar cair qualquer
coisa sobre nós…
- É
preciso ter atenção com as caricias do namoro passageiro... Porque as vezes
costumam deixar marcas dolorosas que nunca mais se esquece e que são difíceis
de ultrapassar...
- É preciso resistir contra tudo o que pretende invadir o nosso
corpo... Porque pode nos causar lesões para depois nos pode causar dores no
momento de tratamento para cicatrizar as feridas... E as mentiras que esparramam
depois, só põe em causa a nossa referência da verdade...
Por isso, vale a pena tentar ultrapassar o impasse, de forma
negociada e que passa mesmo pelo respeito da Constituição. Pois só assim
Guiné-Bissau poderá livrar-se das medidas pesadas da comunidade internacional,
que infelizmente são adotadas de forma não seletiva.
Assim sendo, se até ontem havia dúvidas do poder ou não de arrumar
a nossa casa, com a política dos políticos que temos. Hoje, estão mais uma vez
em prova de fogo, para demonstrar o povo e o mundo, que ser bom político não
está só na facilidade de articulação oral de palavras lindas e cativantes, mas
também na segurança do posicionamento perante uma situação delicada como esta,
na coragem acertada de decidir, de agir e de fazer.
Nós, sempre estaremos a rezar e a pedir que haja justiça e paz na
Guiné-Bissau. E por isso mesmo, desejamos uma saída airosa dessa crise
política, onde não estejamos isolados ao resto do mundo, para que todos nós
possamos estar com alívio na memória. Mas também ansiosos de estar com uma
certeza bem clara que afinal neste país… Quem decide? Como decide? Porque
decide? Quem somos? E para onde vamos?