ESTHER SPENCER FARMHOUSE
FONTE: LIBERAL
No rescaldo de
golpes e conflitos, a Guiné-Bissau procura o seu espaço, num continente
africano marcado por feridas abertas… e parecendo ser a maior “dor de cabeça”
dessa coisa a que chamamos “comunidade internacional”. Vivendo permanente
instabilidade, com excepção do curto período de liderança de Luís Cabral (o
primeiro Presidente da República, um homem bom abandonado pelos seus
“camaradas” cabo-verdianos) e uma “normalidade” forçada pelo punho autoritário
do primeiro consulado de Nino Vieira, a pátria de Amílcar Cabral parece marcada
pelo selo de tragédia da morte violenta do seu inspirador e pai da
independência.
Golpe atrás de
golpe, os militares guineenses têm marcado a agenda política do país,
transformando a sociedade civil (aqui, uma figura de estilo para se falar das
pessoas comuns) em mera espectadora dos desmandos de uma tropa prenhe de
autoritarismo, ressabiamentos antidemocráticos e perigosas ligações ao universo
do tráfico de estupefacientes, no que rivaliza com uma classe política que bebe
do mesmo cântaro e engorda num oceano de corrupção e iniquidade.
A Guiné-Bissau,
aparentemente, parece ingovernável, a não ser que fosse possível inventar uma
nova instituição militar e novos agentes políticos nos destroços de uma
sociedade marcada pela insanidade, e reinventar-se um conceito de democracia
que correspondesse com mais equidade à multiplicidade étnica e cultural de que
enforma o país: uma manta de retalhos criada pela ocupação colonial e desenhada
a régua e esquadro numa lógica de partilha do continente africano pelas
potências europeias.
Os problemas da
Guiné-Bissau, para além das dores domésticas desse povo sofrido, são feridas
profundas gravadas a escopro na má consciência daqueles que procuram receitas
iguais para coisas diferentes. Ou seja, o concerto das nações só é possível se
gizado sobre as diferenças que fazem deste nosso mundo uma manta de
multiculturalidades.
As receitas do ocidente “civilizado” e “democrático”, às tantas, não farão muito sentido num continente que tem de reinventar novos conceitos e novas formas de organização política e social. A “chapa 5” dos regimes democráticos da Europa e do continente americano já provou não servir nem ajudar uma África que, de tanto ser “ajudada”, só tem vindo a atrasar o seu desenvolvimento e o progresso social dos seus povos.
E o presente
conflito na Guiné-Bissau representa à evidência o role de equívocos e
incompreensões, não raras vezes subjugados a lógicas neocoloniais, que
caracterizam as posições “politicamente correctas” da dita “comunidade
internacional”. O que, de resto, me apela a ser completamente “politicamente
incorrecta” ao admitir, como mera hipótese de raciocínio, a possibilidade de,
por esta vez, os militares não deixarem de ter razão.
Os apetites expansionistas do regime angolano não são um sofisma, como também se percebe que o governo de José Eduardo dos Santos traz na algibeira vários dirigentes africanos a quem distribui generoso o pecúlio de sangue dos diamantes e do petróleo roubado ao seu povo. E o dinheiro serve para tudo, até para se comprarem consciências e ganharem eleições.
Cercado pela
insatisfação dos seus povos, que saem à rua exigindo liberdade e uma outra
democracia, o ocidente “civilizado” e “democrático” precisa de exemplos na
distante África que legitimem a superioridade civilizacional de que, arrogantemente,
se julga portador. E está disposto a pagar para isso. E, como já se percebeu, a
fila de pedintes da “ajuda internacional” é interminável, com políticos ávidos
e gordos do que desviam dos bolsos dos famintos do continente.
Ordidja-notando
Ordidja-notando
Lá está, todos ajam que têm opinião a dar e podem opinar sobre a
Guiné-Bissau. Mesmos que essas opiniões sejam mantas e retalhos de uma imbecilidade
atroz, marcadas por alguns complexos de superioridade dos nossos irmãos das ilhas.
A dança da insanidade com a liberdade numa noite de funana, da nisso!!!
A dança da insanidade com a liberdade numa noite de funana, da nisso!!!
Guiné-Bissau foronta bô!!!