Mussa Baldé
Por: Mussa Baldé
Creio ter falado duas ou três vezes com o eng. Pepito.
Lembro-me perfeitamente que da primeira vez que falamos foi por causa de um
poema meu sobre Cacheu do qual ele terá gostado ao ponto de perguntar quem
seria o autor. Um amigo meu, que por sinal trabalha com ele na AD,
apresentou-nos. Conversa breve. És tu, o autor daquela obra. Perguntou. E eu, sim, sou, respondi. Estávamos
com pressa, tanto eu como ele. A conversa decorreu na sede do Governo. Enquanto
jornalista tinha lá ido em reportagem de um acontecimento que seria organizado
pela AD.
Dias depois recebo um recado em
forma de ultimato do Mais-Velho, a forma carinhosa como era tratado pelos seus
incansáveis jovens da AD, a sentenciar-me um pedido: Tens que gravar aquele teu
poema para o festival Cacheu Caminho de Escravos, o retorno dos Quilombolas.
Ainda pensei em perguntar os porquês, mas em África não se discute uma ‘ordem’
de um Mais-Velho dada em cima da sua autoridade forjada na idade e na sabedoria
É uma ‘ordem’ vinda de uma pessoa com carisma e sapiência do eng. Pepito não
seria discutida por mim, um catraio imberbe nessas lides do desenvolvimento.
Disse para mim, se o eng. Pepito quer um poema meu para engalanar a sua festa
dos escravos de Cacheu então assim será. Fi-lo com paixão ao ponto de o poema
‘Catcheu Terra di Rispitu’ fazer parte da coletânea de canções sobre a velha
cidade guineense como introdução ao CD.
Das outras vezes que voltei a
falar com o eng, Pepito creio que foram em entrevistas com ele. Confesso que
tinha pouca proximidade física com o homem, mas isso não me impediu nunca de
reparar nas boas ações que levava a cabo neste pequeno mais complicado país. O
eng. Pepito era daquelas (poucas) boas almas que existem na Guiné-Bissau. Era
homem comprometido com as causas. Sim, porque para ele as causas eram tantas.
Abrir uma escola em Kubompor, ensinar aos meninos de Cassolol como cuidar dos
tarrafes, sensibilizar os aldeões de Iemberém como construir fogões melhorados
para preservar a floresta de Cantanhez, evocar a celebre batalha e queda do
quartel de Quiledje, levar a boa nova para as terras do sul que tão bem
conhecia, invocar a história glorificante da decadente, mas ainda solene cidade
de Cacheu com o seu olhar nostálgico das grandes caravelas a transportar
escravos para as Américas e para Europa, falar aos jovens do bairro de Quelelé
sobre a participação cívica, puxar pelos jovens criadores sobre a importância
da cultura para a afirmação da identidade. Enfim, o eng. Pepito era um
guineense comprometido com as causas desenvolvimentistas.
Muitos guineenses têm feito algo
para mudar a vida dos demais, mas poucos têm-no feito com vigor, empenho e
dedicação por tantos anos e em várias zonas do país como o eng. Pepito. Não
existe uma única região da Guiné que não tivesse uma obra semeada ou
incentivada pelo eng. Pepito.
Não conheci o eng. Amílcar
Cabral, figura tutelar de todas as causas boas da Guiné, mas creio não estar a
exagerar se colocasse a ação do eng. Pepito no mesmo patamar daquelas
desencadeadas pelo chefe de Guerra isto em termos da emancipação dos
guineenses. E olhem que ambos eram guineenses que não eram pretus mbaus.
As minhas sentidas condolências à família, aos jovens que de forma abnegada labutavam com ele na AD e aos amigos, particularmente ao eng. Nelson Dias.
Paz!
As minhas sentidas condolências à família, aos jovens que de forma abnegada labutavam com ele na AD e aos amigos, particularmente ao eng. Nelson Dias.
Paz!
Eng. Pepito numa escola da Guiné
Ordidjanotando
Li na página do facebook do irmão, amigo e camarada Mussa
Baldé, este texto magnífico, que consegue de forma extraordinária retratar as intervenções que bem demonstram o trabalho e a larga visão social no combate ao subdesenvolvimento, do grande timoneiro Eng. Carlos Silva (Pepito).