Fonte:
Folha 8
Dois
juristas consideraram de infeliz o pronunciamento do ministro do Interior sobre
as detenções de vários jovens do chamado Movimento Revolucionário que, ao
quererem debater essa perigosa e inoportuna questão que é a democracia,
cometeram – segundo o regime – um dos mais hediondos crimes contra a segurança
do Estado.
O
ministro Ângelo Tavares, lendo a tradução dos comunicados do governo
norte-coreano, disse à rádio estatal que as detenções que a polícia praticou
são legais e que os familiares dos detidos, e outros actores sociais, podiam
ficar tranquilos e deixar a justiça fazer o seu trabalho.
Os
jovens foram acusados de estarem a preparar-se “para realizar actos tendentes a
alterar a ordem e a segurança pública do país”, segundo nota do Serviço de
Investigação Criminal (SIC) que amaciou a acusação que, poucos antes, era de
tentativa de golpe de Estado.
O
jurista e professor universitário Ângelo Kapuatcha disse à voz da América que o
pronunciamento do ministro do Interior sobre estas detenções não faz qualquer
sentido.
“O
ministro do Interior foi infeliz na medida em que apela à calma dos familiares,
pois em momento algum um familiar vai ficar calmo vendo o seu filho ser preso
arbitrariamente e sem saber como está e onde”, disse o advogado.
“Qualquer
pessoa acusada de um crime deve ser informado de que cometeu e a sua família
deve ser informada para onde o levam, para constituir um advogado e ser
ouvido”, acrescentou.
Ouvido
pela VOA, o nosso director, igualmente jurista, William Tonet, chama de
“pronunciamento surrealista” a acusação de que os jovens se preparavam para
alterar a ordem pública.
“Partindo
do surrealismo do ministro, seria o primeiro golpe de Estado, que teria lugar
com computadores, lapiseiras e bloco de apontamentos”, disse William Tonet. “Isto
mostra um desnorte do regime que um dia destes vai começar a prender os
mosquitos,” acrescentou.
“Este
país está doente, o regime esgotou todas as soluções só assim se justifica estas
detenções todas”, disse William Tonet para quem “isto não é política é
ditadura, e em ditadura não há bom senso, não há justiça só há pouca vergonha e
força”. “Qualquer
dia destes quem sonhar e pensar também vai preso”, acrescentou.