quarta-feira, 16 de julho de 2014

Guiné-Bissau na UE

José Manuel Durão Barroso



Declaração do Presidente da Comissão Europeia após a reunião com o novo Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira
Bruxelas, 16 julho 2014

Bom dia minhas senhoras e meus senhores,

É com muito gosto que recebo hoje o Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Doutor Domingos Simões Pereira. Trata-se de uma visita muito importante. Uma visita simbólica por vários motivos. Representa o virar da página na Guiné-Bissau, um regresso à normalidade democrática e constitucional. Também representa um normalizar das relações e do diálogo político entre a União Europeia e a Guiné-Bissau que, como sabem, tinha sido suspenso há dois anos atrás com o golpe de Estado naquele país.

Mas também é muito importante visto tratar-se da primeira visita do Primeiro-Ministro, empossado há apenas duas semanas. Esta é a primeira visita a Bruxelas, às instituições europeias e eu acho que posso dizer que uma visita tão cedo aqui à União Europeia demonstra a vontade do Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau de reativar as relações entre este país africano e a União Europeia.

Tive ocasião de felicitar o Primeiro-Ministro e o povo da Guiné-Bissau pelo sucesso das eleições legislativas e pela sua nomeação.
Depois de dois anos sem autoridades legítimas, as eleições legislativas e presidenciais foram um passo muito importante para o futuro da democracia guineense, para a estabilidade política e social, para o futuro do país.

O progresso eleitoral na Guiné-Bissau decorreu de forma livre, justa e pacífica, tal como foi confirmado por todos os observadores internacionais, incluindo a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia.

É por isso com grande satisfação que confirmo a decisão de levantar a suspensão da nossa cooperação com a Guiné-Bissau – uma suspensão que estava em vigor desde 2011 por causa, precisamente, do não respeito dos princípios do Estado de direito democrático naquele país.

Estas eleições, como eu já disse, foram um momento muito importante. Espero que venham a tornar-se um momento fundacional para uma nova Guiné. Falta, contudo, muito caminho por percorrer.

Os desafios políticos e socioeconómicos da Guiné-Bissau são imensos. É, por isso, necessário mobilizar todos os esforços para consolidar as instituições políticas, garantir o Estado de direito e lutar contra a impunidade, a corrupção, o tráfico de drogas e promover todos os instrumentos que possam garantir o desenvolvimento e o bem-estar do povo da Guiné-Bissau.

Neste contexto, é também essencial uma reforma do sector de segurança que garanta Forças Armadas subordinadas ao legítimo poder civil. A atual situação económica e financeira do país é débil. As novas autoridades precisam de apoio urgente. Por este motivo, a comunidade internacional não deve poupar esforços para apoiar as autoridades da Guiné-Bissau, de modo a corresponder às necessidades mais urgentes.

Disse ao Primeiro-Ministro que pode contar com o apoio da União Europeia. Enviámos imediatamente para Guiné-Bissau, após a tomada de posse do novo governo, uma Missão Especial, com serviços da Comissão Europeia e do Serviço Europeu de Ação Externa, de modo a definir o apoio a um programa urgente de recuperação. Essa missão vai também apoiar os esforços do Governo para prosseguir as suas prioridades imediatas, incluindo o pagamento de salários, o fornecimento de água e eletricidade, o apoio à agricultura.

A Missão restabeleceu ainda o contato no âmbito do Acordo de Parceria de Pescas UE-Guiné-Bissau, para avaliar a possibilidade de voltar a ativar o novo protocolo técnico e financeiro.

Estamos também a preparar um pacote de apoio às novas autoridades e à população da Guiné-Bissau de curto médio prazo e esse pacote de médio-prazo vai incluir, pelo menos, 60 milhões de euros.

Em primeiro lugar, apoio orçamental num total de 20 milhões de euros, para ajudar as autoridades a lidar com as necessidades mais urgentes e a fornecer serviços básicos à população;

Em segundo lugar, apoio à população através de ONGs e organizações internacionais, no valor de 34 milhões de euros em áreas como o desenvolvimento rural, a segurança alimentar, a luta contra as alterações climáticas e o apoio à sociedade civil;

Em terceiro lugar, estamos também a considerar o apoio através do Instrumento de Estabilidade e Paz para reforçar as capacidades das forças de segurança civis na gestão das fronteiras e para contribuir para a luta contra a impunidade e a corrupção.

Além destes três pontos que acabei de enumerar, esperamos reativar o Acordo de Parceria de Pescas logo que possível, ao abrigo do qual a Guiné-Bissau receberá 9.2 milhões de euros por ano.

A longo prazo, o envelope nacional do 11ª Fundo Europeu de Desenvolvimento, no valor de 105.5 milhões de euros, começará agora a ser programado tendo em conta as prioridades definidas pelo novo governo em nome da Guiné-Bissau.
Durante a nossa reunião abordámos estes diferentes aspetos e a necessidade e condições necessárias para pôr em prática muito rapidamente esta ajuda, que é vital para a Guiné-Bissau.

Quero mais uma vez agradecer o Senhor Primeiro-Ministro por ter podido responder tão rapidamente ao meu convite para estar aqui em Bruxelas. A África de expressão portuguesa e também especialmente a Guiné-Bissau ocupam um lugar especial nas minhas prioridades enquanto Presidente da Comissão Europeia.

Como sabe, durante estes últimos anos, procurei sempre que a comunidade internacional não se esquecesse da Guiné-Bissau. A Guiné-Bissau é um país pequeno mas é um país que conheço bem, cujo povo já sofreu demasiado, e não é justo que tenha passado por vezes despercebido, dado que a atenção mediática foi consagrada a assuntos talvez mais espetaculares.

Mas o povo da Guiné-Bissau merece a oportunidade de viver em paz, democracia e segurança. Tem os mesmos direitos que qualquer outro povo no mundo. E eu acredito que os esforços do Primeiro-Ministro, a sua vontade e a sua energia sejam determinantes para gerar no seu país o ambiente de consenso que é indispensável. Felicito-o pelas decisões já tomadas, desejo-lhe o melhor possível para si, como Primeiro-Ministro, para o seu governo, para o povo da Guiné Bissau.

A União Europeia vai estar ao seu lado e ao lado da Guiné-Bissau. E agora mãos à obra. Há muito trabalho para fazer, muito disto depende agora do modo como formos capazes de pôr em ação os próprios programas. A comunidade internacional não se vai esquecer da Guiné-Bissau. Eu próprio muitas vezes tenho falado no assunto ao Secretário-geral das Nações Unidas, o meu amigo Ban ki-Moon.

Como disse há pouco, a comunidade internacional ajuda; mas aqueles que se podem ajudar são os próprios guineenses. Nada pode substituir a vontade e a capacidade dos próprios guineenses para criarem condições para que o seu país garanta a estabilidade, a paz, a segurança e também as condições democráticas para a posteridade.
Muito obrigado.