Sr. Helder Pedro Delgado (Dédé) foto da página no facebook
Nem sei como começar! Hoje no dia seguinte a dor parece
maior...
Em resumo o que se passou ontem foi isto: o celular tocou eram
cerca das 18h 15m de Brasília; como estava a conduzir (a caminho do Colégio
para buscar os meus filhos) olhei para o écran do aparelho e dei conta do
registro VP; a chamada era do irmão,
amigo e colega de infância Victor Barbosa Vicente (VP) que vive em Brasília a
cerca de 15 anos e tem sido uma companhia agradável por aqui; quando atendi o dialogo
foi este;
- VP, i kuma?
- Alin li nhe ermon, kuma ku bu sta?
- Djubi na conduzi, di li mas um bokadu na ligau...
- Ok, ma djubi n’tene um notícia muito tristi pa dau...
- Kau fala...
- Suma nô papia di el ontordias, n’fika mas tristi inda...
- Kila i kin?
- Tio Dédé, madju...I falci...Gós ku Charles kontan...
- Kau falan kila!!!
Silêncio com magoa,
dor, angustia, tormento, tristeza em catadupla, tudo misturado num só momento.
O Tio Dédé ou Sr. Dédé,
era como na maior parte das vezes como as pessoas tratavam o Sr. Helder Pedro
Delgado. Irei guardar para sempre dele, o Homem com brilhante espírito jovem, amável
e de simples trato. Pena que não seja imortal, para que jamais fossemos
privados da sua presença exemplar e digna, razão de ser detentor de um círculo
de amizade imensa. Com uma conduta ímpar
o Sr. Dédé era fruto daquela Educação antiga de Bolama!
Para os que não o conheceram, o que poderei escrever desta
figura impar neste momento de dor e consternação numa altura em que as lagrimas
não poupam os meus olhos?
Bolamense, adotivo no mítico Bairro Tchon di Pepel, Helder
Delgado (Dédé) foi um dos poucos quadros administrativos antes da Independência
Guiné-Bissau nas Finanças. Autêntico (homem de praça) foi preso devido a sua
bravura de confrontar o regime autocrático de Luis Cabral. Sobre esse período lembrava
com certa tristeza, de ter tido como um dos carcerários o Buscardini, que como contava
“foi uma pessoa com que partilhou boa convivência em tempos de Bolama”.
Outra magoa foi, a forma cruel e injusto que lhe tiraram da casa
onde viveu com os pais e irmãos quando chegaram à Bissau vindos de Bolama e onde
vivia com a família, no Tchon di Pepel. A ganância de uns e traição de outros,
riscaram-lhe esse destino. Mas como sempre e com o espírito alegre gozava
muitas vezes dessa situação afirmando “fui apenas mais um, entre muitas vítimas
dos calotes das compras e vendas das casas de Bissau”. Essa casa (situado na
atual Rua Marien N’gaubi, antiga Rua Guerra Junqueiro) foi uma verdadeira Casa da
Cultura. Quase todos os músicos e compositores de Bissau nos anos 80 passavam
por lá. Sempre amável e acolhedor, Sr. Dédé recebia na sua casa, todas as
pessoas, independentemente dos estratos sociais. O Justino Delgado foi acolhido
nessa casa quando chegou de Bubaque, o Rui Sangara (Sanguis) fez as primeiras
musicas no quintal dessa casa o irmão Atanásio (Atchuen) não tirava o pé da
moransa, o Patchi (África Livre) brindava a todos com o seu gênio musical nessa
casa, enfim...
Bom orador e fundamentalmente conciliador, sobressaia mais esse
dom no Sr. Dédé, quando as lindas noites de serenata que promovia em frente da
casa onde morava (no passeio) tendiam para debates mais calorosos e exaltados.
Bom conversador, não olhava a idade para ser amigo.
Congratulo-me de ter conhecido este Homem, no meu caso, o guardarei
para sempre como uma pessoa rara, que veio ao mundo para, com exemplos
dignificantes do seu modo de ser ensinando os menores e, ressalvo aqui que concordava
em quase tudo com ele, mas havia um assunto que discordávamos um do outro, o
futebol. Sportinguista ferrenho, o seu Sporting era sempre a melhor equipa,
mesmo contra o Benfica. Sr. Dédé, como vê, essa nossa rivalidade é eterna!
Desta vez, embora triste, faço este pequeno testemunho para informar
aos leitores e não deixar passar “aquele tempo” isto para não repetir o que
aconteceu a quando da morte de outra figura de proa bissau-guineense o irmão e
amigo Tony Bana, que como Sr. Dédé, partiram deixando a todos os conhecidos,
amigos e familiares um vazio sem fim.
Aproveito para deixar os meus sentidos pêsames a todos os
familiares em especial a esposa Professora Nandinha, aos filhos Waldir (Puma),
Danilson (meu irmão Dany), a Dilma ao Xito as netas Janice, e a Janine (minha
afilhada) e toda a família Delgado.
Paz e eterno descanso, Sr. Dédé!