Dr. Augusto Paulo
É
com grande pesar e tristeza que soube do desaparecimento físico do Zé Manel e do Hélder num espaço de tempo assim tão curto. O quanto tinham ainda
para viver e dar a família e ao país o que de melhor sempre possuíram.
Neste
momento de dor e da angústia que partilho convosco, estas duas figuras foram e
continuarão na minha mente para sempre e não é para menos. Isso porque uma
parte da minha infância-adolescência decorreu no mesmo bairro – o de Mindará
onde eles cresciam e desenvolviam debaixo da tutela da mãe, a saudosa D. Dina,
antes de mudarem, creio em 1966 ou 67, para o bairro de Varela-Chão-de-Papel.
Em
Mindará recordo que, sobretudo eu e o Zé Manel, de um lado, éramos do Sporting,
e do outro, o saudoso Zé António que era um ferrenho do Benfica. Aos domingos,
íamos à missa na Sé Catedral de Bissau e à tarde ao cinema na UDIB. Também
recordo o quanto apreciávamos os filhoses da D. Dina, mulher galinha que muito batalhou
para “criar” os seus filhos. Que grande orgulho ela tinha por eles com aquela
fala mansinha, mas carregada de determinação! Ainda sinto o toar muito parecido
das suas vozes. Uma herança ímpar! Eu para eles era Marcos e não Augusto Paulo,
um interposto do meu pai que na altura não conhecera. Também fui criado pela
minha mãe.Como ela e a D. Dina trocavam visitas, atrevo-me a dizer que foram
amigas e confidentes.
A
última vez que estive com o Hélder, foi há uma coisa de 2 anos ou menos. Estava
de viatura e parei para cumprimentá-lo numa rua, arredores de Meteorologia, daquela
que é perpendicular a um dos portões do estádio de futebol Lino Correia,
ex-Sarmento Rodrigues. Como aceitou a minha boleia, descemos a rua abaixo.
Lembro-me
muito bem da nossa conversa.Não foi sobre nós e a família, nem sobre o país
como é habitual, mas sobre a música: tocava no carro um CD com a música de
Franco de OK Jazz e isso nos fez viajar atrás aos idos tempos em que víamos
dançar, pendurados nas janelas, os nossos adultos.
Ainda
prometi ao Hélder que lhe faria uma cópia da música, mas não passou dessa
promessa. Como a viagem era tão curta, só nos permitiu debicar as nossas
saudades daqueles tempos de Mindará antes do nascimento da nossa República da
Guiné-Bissau. O Hélder desceu do carro. Despedimo-nos e ele entrou numa vivenda
de centro de Bissau. Nunca mais o vi.
Ai
que saudades:das nossas mães! Dos tempos de “cadjús e de mangus”! Da escola! De
relatos de futebol no rádio! De claques do Benfica contra Sporting e vice-versa.
Da espera das nossas mães que regressassem de “Fera diBandi” porque traziam
sempre qualquer coisa de “pêga barriga” enquanto cozinhassem o saboroso almoço.
Que amor e proteção nos davam! Mas que tamanha saudade!
José Manuel Saldanha e Hélder Saldanha
E
eis que o Zé Manel e o Hélder me deixaram. Estou triste mesmo!
Para
ambos, é muito pouco o que eu conseguiria verter. Mas guardo isto deles para
sempre! Como é maravilhoso sentir tais saudades! Eu só queria
desta forma, honrar a alma deles e partilhar esta memória com a família que
também considero minha, sem ambiguidades.
Que
as suas almas descansem em paz!
Marcos/Augusto
Paulo.
Petrópolis.
Rio de Janeiro. Agosto de 2013.