Gorky Medina
Por: Gorky Medina
Hoje decidi homenagear uma grande mulher,
colega, amiga e irmã. Quando em Outubro de 1982, tinha eu 6 anos de idade,
acabados de chegar uma cidade nova, eu que já vivera em 3 cidades antes e, ao
chegar a minha Escola, Maria Montessori, em Bolama, e me conduziram a turma,
deparei-me com várias pessoas, uma delas era Artemisa Odila Candé Monteiro,
para muitos, simplesmente Dila.
A partir dessa data, nunca mais me largou
no pé, porque continuamos a estudar na mesma turma até ao fim do ciclo, 6º ano
(para nós 6ª classe)! Portanto, todos esses anos, ela foi uma amiga,
companheira, acima de tudo uma irmã por todos os laços que nos unia.
É que, a minha mãe e o pai dela, Oscar
Monteiro (Tutu), foram colegas na Escola de Formação de Professores em finais
dos anos 60 em Bolama, e ainda foram juntos fazer Magistério Primário em
Aveiro, o que faz do Óscar, aquelas pessoas que sempre conheci, e ainda por
cima sempre me chateia por ser lampião, elas nunca me largam… até os meus
irmãos que são na maioria lampiões!
Mas dizia, a Dila que me enfureceu várias
vezes, era daquelas colegas que me seguiam para todo o lado e nunca estava
contra mim nas minhas várias lutas, fingia-se de discreta, mas sempre ombreou
connosco no que toca a obtenção de excelentes resultados. Entre nós, se
rapidamente perguntassem quem eram os melhores, facilmente se esqueceria dela,
mas ela está nesse grupo, tanto que é única mulher que fez todo o percurso
connosco.
Eu me separei dela em 1988, quando em
Julho obtivemos o visto por excelência, para ingressar no Liceu. Ainda
estivemos juntos algumas vezes antes de partirmos, porque, não o disse atrás, a
casa dos avós dela, é mesmo em face da casa dos meus avós, pelo que a minha mãe
e o pai dela, para além desse percurso todo, são na verdade do mesmo bairro e
vizinhos. Em África, vizinho é família, pelo que existe uma certa afinidade
entre as nossas famílias.
Depois de sair de Bolama, passei montes de
anos sem vê-la. Na verdade, quase uma década. Deixando Bolama à beira dos 12
anos, lembro-me de começar a vê-la, mas com pouca regularidade, quando terminei
Liceu e regressei Guiné-Bissau, passando a partir dessa altura a viver em
Bissau. Depois disso, ela partiu para Brasil para os estudos!
Era aqui onde quero chegar, do percurso
académico dela, daquilo em que ela acabou de se tornar. Muitas vezes, num país
onde muita boa gente mente em relação ao seu grau académico, deixamos de dar
verdadeiro valor a quem o tem. A Senhora Professora Doutora Artemisa Odila
Candé Monteiro, é uma guineense que, com o seu feito, entrou para a prateleira
dos que ostentam o grau mais alto da escolaridade e isso me deixou
completamente orgulhoso dela e encheu o meu coração de alegria. Eu que estou na
Academia, tenho noção de quantos espinhos, obstáculos, e dificuldades ela
atravessou até chegar ao culminar de todo um processo sempre longo.
Minha querida Dila, a Guiné-Bissau teu
país, Bolama tua terra, tem todo o motivo de estar orgulhoso de ti e te render
a sua homenagem. No que me toca – como guineense e bolamense -, deixo aqui o meu
contributo, rendendo-te homenagem por esse feito.
Um dia, quando estivermos juntos, conto
dar-te um tremendo abraço, a fim de sentires o quão orgulhoso de ti eu estou.
És e foste sempre isso, uma pessoa determinada e que há muito soube traçar o
seu caminho.
Na nossa última conversa te disse e
repito: “continua a ser tu, deves ser tu quem traça o teu caminho, não podes
deixar que gente sem rumo te ensine o caminho. Pois quem não tem rumo, não pode
saber o caminho certo…”