sábado, 8 de março de 2014

Mbludju di mindjer di Guiné

Saliatu da Costa e a filha
Por: Saliatu da Costa

Neste alvorecer do 8 de Março, exuberam-se preparações em torno da Mulher, sendo o dia que ficou na história como Internacional da Mulher, em Homenagem às 130 tecelãs que morreram na fábrica em 1857. Essas dignas Mulheres que num acto de revindicação por igualdade de direito, mais concretamente para a equiparação de salário e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho, foram barbaramente trancadas e incendiadas dentro da fábrica. Portanto, É impreterível e prodigioso que nesse dia façamos uma retrospectiva do quotidiano da Mulher e teçamos planos futuros a favor da condição feminina. Como Mulher Guineense, não abro mão do mesmo direito que me assiste e enumero as minhas actuais inquietações enquanto tal, apresentando-as assim:


1º A Educação:

Não obstante o seu défice a nível nacional, com uma taxa expressiva do analfabetismo, a mulher continua a ser a mais afectada, com maior e elevado número de abandono escolar precoce, numa sociedade onde o tradicionalismo impõe-se ao modernismo.

2º Mortalidade Materna e Neo-Natal

A realidade da morte materna e neonatal na Guiné-Bissau é deveras alarmante, com uma taxa de mortalidade materna de 818/100.000
As condições básicas para um simples procedimento do parto são degradáveis, apontando aos acontecimentos desde escassez do material à ausência da qualificação profissional.
O acto mais deslumbrante da vida duma Mulher não pode se transformar em receio de morte, impedindo a real satisfação do momento. 

3º HIV-SIDA

A estatística apela uma mais-atenção ao facto, com rápidas e eficazes medidas de prevenção e intervenção, onde se aponta 102 mil infetados num país de 1,7 milhões de habitantes, com a mulher no pódio das infecções, sobretudo na idade juvenil. Ou seja, há uma correlação muito forte entre o início da vida sexual e a infeção com o HIV-Sida.
As principais formas de transmissão são as relações sexuais e a via vertical – de mãe para filho. Portanto, há uma grande necessidade de focalização destes pontos, ainda que na família. Há sim muita desinformação e uma ausência de sensibilização da realidade da doença.

4º Violência contra a Mulher e criança

A mulher guineense continua a enfrentar inúmeras violações do seu direito, nomeadamente o direito de dizer não ao casamento precoce e forçado, dizer não à relação sexual, inclusive com o cônjuge, resultando, em muitos casos, nas agressões e torturas físicas, psicológicas e verbais. A impunidade continua a reinar nos casos de violência doméstica, com a maioria vitimizada a não apresentar queixa perante as autoridades competentes, numa consciente noção da actuação mínima diante do caso e por vergonha ou medo de represálias.
A violência sexual sobre a criança continua a ser encoberta por uma grande maioria dos pais, ignorantemente, temendo repercussões negativas na vida da criança, não havendo estruturas sólidas de apoio à vítima. Acabando o abusador, na maioria das vezes por permanecer impune.
A mutilação genital é uma circunstância ainda preocupante, mas a ser debatido e com uma considerável intercessão do estado e muitas outras estruturas, baixando sim o nível da nefasta prática, mas ainda não é o fim.

5º Intervenção da Mulher ao mais alto-nível na Política

Perante muitas evoluções com que a mulher se vanglorie actualmente, conquistadas por mérito, ainda existem as lacunas a debater e combater, começando pela equidade de salários em funções idênticas, aumento de participação na política activa e às incumbências de relevância. É sabido e provado a mais coerência e organização da Mulher numa governação, ao que devemos apelar ao seu concretizar, incentivando as nossas Mulheres a se fazerem presentes, não ignorando todavia, o elevado empenho.

6º Apoio e orientação profissional às mães adolescentes

É necessário mais engajamento na capacitação dessas mães, para que encarem de frente os desafios que o quotidiano lhes exige e deem assim o seu contributo para a sociedade. 
Particularmente, como mulher guineense, penso que são os factos em que devemos reflectir e considerar as nossas hipóteses de intervenção, constituindo um contributo para uma melhor condição da Mulher e da nossa sociedade, mesmo não residindo no país.
Para já, desejo um excelente 8 de Março a todas as Mulheres do Mundo e de uma maneira especial às mulheres guineenses, com muita estima e admiração que lhes tenho. Não deixemos de parabenizar os nossos homens, cada vez mais participantes e nobres no acompanhamento das nossas causas.