Saliatu da Costa e a filha
Por: Saliatu da
Costa
Neste alvorecer do
8 de Março, exuberam-se preparações em torno da Mulher, sendo o dia que ficou
na história como Internacional da Mulher, em Homenagem às 130 tecelãs que
morreram na fábrica em 1857. Essas dignas Mulheres que num acto de revindicação
por igualdade de direito, mais concretamente para a equiparação de salário e
tratamento digno dentro do ambiente de trabalho, foram barbaramente trancadas e
incendiadas dentro da fábrica. Portanto, É impreterível e prodigioso que nesse
dia façamos uma retrospectiva do quotidiano da Mulher e teçamos planos futuros
a favor da condição feminina. Como
Mulher Guineense, não abro mão do mesmo direito que me assiste e enumero as
minhas actuais inquietações enquanto tal, apresentando-as assim:
1º A Educação:
Não obstante o seu
défice a nível nacional, com uma taxa expressiva do analfabetismo, a mulher
continua a ser a mais afectada, com maior e elevado número de abandono escolar
precoce, numa sociedade onde o tradicionalismo impõe-se ao modernismo.
2º Mortalidade
Materna e Neo-Natal
A realidade da
morte materna e neonatal na Guiné-Bissau é deveras alarmante, com uma taxa de
mortalidade materna de 818/100.000
As condições
básicas para um simples procedimento do parto são degradáveis, apontando aos
acontecimentos desde escassez do material à ausência da qualificação
profissional.
O acto mais
deslumbrante da vida duma Mulher não pode se transformar em receio de morte,
impedindo a real satisfação do momento.
3º HIV-SIDA
A estatística apela
uma mais-atenção ao facto, com rápidas e eficazes medidas de prevenção e
intervenção, onde se aponta 102 mil infetados num país de 1,7 milhões de
habitantes, com a mulher no pódio das infecções, sobretudo na idade juvenil. Ou
seja, há uma correlação muito forte entre o início da vida sexual e a infeção
com o HIV-Sida.
As principais
formas de transmissão são as relações sexuais e a via vertical – de mãe para
filho. Portanto, há uma grande necessidade de focalização destes pontos, ainda
que na família. Há sim muita desinformação e uma ausência de sensibilização da
realidade da doença.
4º Violência contra
a Mulher e criança
A mulher guineense
continua a enfrentar inúmeras violações do seu direito, nomeadamente o direito
de dizer não ao casamento precoce e forçado, dizer não à relação sexual,
inclusive com o cônjuge, resultando, em muitos casos, nas agressões e torturas
físicas, psicológicas e verbais. A impunidade continua a reinar nos casos de
violência doméstica, com a maioria vitimizada a não apresentar queixa perante
as autoridades competentes, numa consciente noção da actuação mínima diante do
caso e por vergonha ou medo de represálias.
A violência sexual
sobre a criança continua a ser encoberta por uma grande maioria dos pais,
ignorantemente, temendo repercussões negativas na vida da criança, não havendo
estruturas sólidas de apoio à vítima. Acabando o abusador, na maioria das vezes
por permanecer impune.
A mutilação genital
é uma circunstância ainda preocupante, mas a ser debatido e com uma
considerável intercessão do estado e muitas outras estruturas, baixando sim o
nível da nefasta prática, mas ainda não é o fim.
5º Intervenção da
Mulher ao mais alto-nível na Política
Perante muitas
evoluções com que a mulher se vanglorie actualmente, conquistadas por mérito,
ainda existem as lacunas a debater e combater, começando pela equidade de
salários em funções idênticas, aumento de participação na política activa e às
incumbências de relevância. É sabido e provado a mais coerência e organização
da Mulher numa governação, ao que devemos apelar ao seu concretizar,
incentivando as nossas Mulheres a se fazerem presentes, não ignorando todavia,
o elevado empenho.
6º Apoio e
orientação profissional às mães adolescentes
É necessário mais
engajamento na capacitação dessas mães, para que encarem de frente os desafios
que o quotidiano lhes exige e deem assim o seu contributo para a sociedade.
Particularmente,
como mulher guineense, penso que são os factos em que devemos reflectir e
considerar as nossas hipóteses de intervenção, constituindo um contributo para
uma melhor condição da Mulher e da nossa sociedade, mesmo não residindo no país.
Para já, desejo um
excelente 8 de Março a todas as Mulheres do Mundo e de uma maneira especial às
mulheres guineenses, com muita estima e admiração que lhes tenho. Não deixemos
de parabenizar os nossos homens, cada vez mais participantes e nobres no
acompanhamento das nossas causas.