Gorky Medina
Por: Numna Gorky Mendes De Medina*
Divulgaram-se hoje os resultados
parciais das eleições gerais pós-golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, e o
PAIGC e o seu candidato são os maiores vencedores quer das legislativas –
conseguindo maioria absoluta de deputados (55) – quer das Presidenciais onde o
candidato do partido independentista João Mário Vaz (Jomav), foi o mais votado
– tendo obtido mais de 40% de votos - mas tendo de disputar uma segunda volta
com o candidato independente Nuno Gomes Nabian – que obteve pouco mais de 25%
de votos.
É do conhecimento geral que sou
apoiante do candidato independente Paulo Gomes, que apresentou ao país o
programa “Nô Muda Rumo di Guiné-Bissau”, mas categoricamente rejeitado
optando-se por aqueles que são completamente desprovidos de programa, a não ser
uma vontade incomensurável de chegar ao poder – pelo qual há meia dúzia de
meses nunca esteve nos seus melhores sonhos.
Muitos dos nossos apoiantes – faço
parte do Gabinete Estratégico que suporta o candidato Paulo Gomes – deverão estar
revoltados e/ou desolados com os resultados. Nesse momento de desespero de
muitos - recebo chamadas de vários quadrantes com pessoas revoltadas a
lamentarem-se o sucedido – importa tentar entender o que está na origem da não
obtenção de votos suficientes do nosso candidato o Dr. Paulo Gomes para chegar
à segunda volta quase sempre obrigatória no nosso sistema.
É importante desmistificar certos
dados aqui: todos diziam que o Paulo Gomes só era conhecido em Bissau, sendo
completamente desconhecido no interior. É uma falácia, pois os resultados
mostram que afinal, o eleitorado menos esclarecido em termos teóricos são os
que mais compreenderam as mensagens que divulgamos durante pré-campanha e
campanha eleitoral. Aliás, convém lembrar aqui, que o único candidato que
percorreu mais do que uma vez todo o território nacional foi o candidato Paulo
Gomes, o que torna a afirmação de desprovida de fundamento.
Portanto meus senhores, o eleitorado demonstrou-nos
de forma inequívoca que concorda com o país da forma como estava antes de golpe
de 12 de Abril. Independentemente de tudo que se questionava nessa altura – nem
vou lembrar tudo que aconteceu no país entre 2009 a 2012 -, o país gosta do
PAIGC e da forma como lhe governa semeando a instabilidade e a desigualdade.
Por falar em instabilidade: esperemos
até a nomeação do novo governo para passarem a existir novas alas no seio do
partido vencedor – formado pelos que esperavam ser chamados para o elenco e não
foram – a juntar com os descontentes que vieram do congresso de Cacheu. É o de
costume, nessas alturas de divisão do bolo, zangam-se as comadres – uns falam
na divisão de canha, pois para eles é disso que se trata, todos têm de comer
dizem…
Já olharam pelas imagens e repararam
nas pessoas que andam mais próximas do candidato presidencial apoiado pelo PAIGC?
Sabem quem essas pessoas apoiaram no congresso ganho pelo DSP? Todos já
comentam de boca em boca que num futuro bem próximo, a instabilização vai
começar, e o interesse supremo do país ficará para trás. Aliás, neste momento
já se aceitam apostas para ver quem acerta na duração do estado de graça que se
vive com a vitória eleitoral nas legislativas.
Quanto a mim, fica a certeza daquilo
que eu afirmara entre 2009 e 2012, nas duas últimas Presidenciais: naquelas
alturas, disse que o povo guineense não se revê nas ideias que eu defendo,
preferindo sempre estar ao lado daqueles que deram provas das suas
incapacidades para dirigir o país e pacificá-lo. Será uma questão de mensagem?
Eis a grande questão: nas sucessivas
eleições realizadas, pergunta-se por que razão o povo tem votado no mesmo
sentido e depois se põe a chorar devido às incapacidades dos eleitos em dirigir
o país? Como podemos esperar que houvesse debate ou compreensão de alguma
mensagem passada pelos candidatos – raros passam uma mensagem -, se temos mais
de uma dezena de candidaturas em todas as eleições? Isso não obsta que haja
lugar e espaço para debate, e favorecerá sempre aqueles que já são conhecidos,
mas que nada de novo têm para dizer e para dar ao povo?
Lembro-me dos debates realizados
recentemente em que participou o candidato presidencial mais votado: num deles,
na Universidade Lusófona, depois de perguntas complexas colocadas pelos jovens
estudantes, prometeu explicar o seu programa depois de ser eleito.
Interessante, alguém quer vender algo, mas que só o mostra ao comprador depois de
este ter pago o valor… e o comprador aceita, surreal – vou registar essa
modalidade contratual de compra e venda para as minhas investigações! Num outro
debate realizado no Centro Cultural Franco Bissau Guineense, quando apertado
por outro candidato sobre as atribuições do Presidente da República, comentou
que não era jurista como o era o inquiridor; na verdade, o inquiridor era o
Hélder Vaz e todos sabemos que não é um jurista, mas sim um filósofo.
Há uma frase lendária que cada povo
tem os governantes que merece, aqui não deixa de ser verdade, por mais que me
custe, o povo guineense merece os sucessivos governos e Presidentes que vão
saindo das eleições, outra leitura é completamente desfasada de realismo.
No domingo passado, quando recebi os
boletins de voto, nem abri o das legislativas, só abri o das Presidenciais e
exerci o meu direito ao voto. A razão do meu voto em branco é simples: não
voltarei a me arrepender em confiar em quem, todo o seu passado demonstrou ser
incapaz – falo dos partidos mais votados. As forças partidárias que poderiam
beneficiar do meu voto foram recusadas pelo Supremo Tribunal de Justiça sem
qualquer tipo de fundamento jurídico.
Para mim, a verdadeira liberdade
consistirá sempre em rejeitar o que me faz mal… Vou rejeitar sempre o PAIGC e o
PRS enquanto continuam a enganar o povo tendo como principal objetivo
conquistar e manter o poder.
Tornou-se moda entre os guineenses
ditos jovens quadros: mal chegam – no caso dos que se formam no exterior –
procuram filiar-se no PAIGC. Mas, como a lista de espera nos independentistas é
enorme, muitos vão diretos ao PRS, pois comenta-se que lá, dão mais
oportunidades aos jovens e a progressão é m ais rápida.
Onde está a ideologia desses dois
grandes partidos? Creio que há muito que no seio do PAIGC, o que interessa é o
poder, depois da luta de libertação nacional, nunca mais tiveram ideologia
alguma. Já o PRS, bom, querem mesmo falar de ideologia nesse caso!?
Há duas semanas escrevi que o país
estava vendido, e tive montes de comentários mostrando o desespero. Agora quero
vos explicar porque fiz tamanha afirmação: quando um candidato na apresentação
da sua candidatura na primeira fila da sala, estavam só chineses ligados a
interesses de madeira, pescas e outros interesses pouco claros, o que se deve
ler disso?
Quando o partido que tem ganhado
eleições e que ganhou esta, que lutou pela nossa independência, sempre que
chegam eleições as suas figuras de proa deslocam-se a Angola a procura de
financiamento eleitoral – já se foi a Líbia nos tempos do Khadafi, violando-se
de forma clamorosa a lei eleitoral como publiquei já demonstrei na publicação
do referido artigo da Lei eleitoral, que recusa os fundos provenientes dos governos
e organismos estrangeiros – para comprar votos, o que se deve retirar disso?
A candidatura de Paulo Gomes terá
cometido muitos erros, mas nunca se elevou o nível do debate político como foi
feito pelo nosso grupo e encabeçado pelo nosso candidato. Isso é errado num
país onde as pessoas estão habituadas a um estilo diferente, a capital Bissau
demonstrou como o país está e como o país pensa – afinal, é a capital que foi
dizimada nos últimos anos pelo tráfico de droga que acaba por de uma forma ou
outra, tocar a todos, deixando mazelas graves na sociedade.
Nunca se tentou moralizar a forma de
estar e de fazer política como fizemos durante estes meses e, principalmente,
durante a campanha eleitoral. Na última semana da campanha, o PAIGC sentindo-se
ameaçado pelo nosso candidato, espalhou em todo território nacional que o Paulo
Gomes era senegalês entre outras inverdades – temos provas de figuras desse
partido que o proferiram na Região de Oio, por exemplo – e que a sua eleição
significaria entregar o país ao Senegal… ouvimos tudo isso, e explicamos a
nossa razão e o que realmente estava em causa. Mas não se iludam, as pessoas
tendem a acreditar, em quem lhe é semelhante, e de certa forma, eramos
demasiados sérios e educados para se identificarem connosco e acreditarem na
nossa versão – coisas de brancos devem pensar de nós…
O país está doente e eu fui chamando
atenção aqui, o trabalho a fazer tem de ser árduo e duradoiro para produzir
resultados. Por isso, não sentimos uns derrotados, afinal das contas, não se
aprende a andar num dia, é um processo, e acreditamos que chegaremos lá um dia,
não contamos desistir.
Como
é que se explica o facto de um jovem de 30 anos, sem formação e sem emprego, e
ainda assim pensa que PAIGC ou PRS é quem melhor resolverá os seus anseios – se
é que realmente tem um anseio?
As pessoas estão completamente equivocadas
quando estão a olhar o Domingos Simões Pereira, sem olhar para o grupo onde
neste momento está inserido. Ninguém que se preze duvida das qualificações
desse ilustre guineense para desempenhar o cargo de dirigir o governo agora
eleito. Mas como é de conhecimento de alguns, para governar o país ele
precisará do partido que lhe garante apoio na Assembleia – por quem responde –
e precisará do Presidente que lhe dê equilíbrio – por quem igualmente responde.
Os crónicos problemas do partido vencedor impossibilitam que tudo isso seja
possível, e juro que como um guineense, vou gostar de saber que o que escrevi
não está certo, terei todo prazer em reconhecê-lo.
Paulo
Gomes era o único candidato que daria equilíbrio a qualquer governo, porque não
está rodeado de interesses partidários complexos, mesmo tendo tido depois apoio
de alguns partidos. A história mostrou-nos que sempre que se deu aos partidos
um governo e um presidente não souberem o que fazer com esse conforto: foi
assim em todos os governos do PAIGC pós-democracia, e foi assim na única vez
que o PRS esteve no poder via eleições – entre 2000 a 2003.
Como mantenho a memória intacta, sei
de tudo o que se passou neste país e não me deixo enganar por nada e por
ninguém. Repito, lobos com pele de cordeiro não me iludem, afinal, nem sou
Capuchinho Vermelho para cair na música. Acabamos de dar mais um tiro nos pés,
e obviamente que a diáspora se desespera, pois perceberam que os irmãos que
deixaram na terra estão tão confusos ao ponto de não conseguirem distinguir os
seus verdadeiros malfeitores.
Quem espera que eu fizesse afirmações
do tipo, o resultado eleitoral foi obtido pela fraude ou algo parecido, então
me desconhece e logo não sabe da minha honestidade intelectual. Os resultados
ora divulgados, do meu ponto de vista, são genuínos e nós os aceitamos com toda
naturalidade.
Um dia, quando partir desta, se
alguém encontrar o meu filho (e outros que terei), serei lembrado como aquele
que sempre esteve a lutar para que mudemos de rumo, mudando a mentalidade e
forma de estar e fazer as coisas. Ainda é possível mudar, por isso não
desistirei, e sei que muitos como eu não desistirão. Assim que passar a
frustração estarão prontos para novos projetos, longe do poder e dos partidos,
onde exala podridão…
Viva a democracia, onde se obriga
quem não está preparado a decidir sobre assuntos que mal compreende… ganhou a
ignorância e ausência de esclarecimento. Todo o sistema está feito para beneficiar
quem aposta em ludibriar o eleitorado de todas as formas que aqui são
conhecidas!
Parabéns aos que foram eleitos e o
que vier a ser podem apostar que faço votos que se cumpra a legislatura e o
mandato do próximo presidente, só assim a carapuça das pessoas cairá de vez. Estamos atentos a observar de fora,
tentando ser útil ao país da forma como sempre fizemos e sabemos fazer, não precisamos
ser nomeados a nada para fazer o que fazemos. Somos válidos em qualquer parte
de mundo, e não é um cartão partidário que torna isso verdadeiro…
Que Deus abençoe Guiné-Bissau!
*- Mestre em Direito Civil