Samba Bari
Por: Samba Bari*
Desde
a nascença sempre ouvimos dizer que na vida é, de pouco a pouco... Não há
qualquer necessidade de alguém dar saltos que não consegue controlar. Pelo que
vale a pena caminhar de passo a passo, na base de honestidade e transparência,
para descobrir o sabor da verdade e refletir nos dias que escaparam,
transformados em anos de puro desperdício.
Abriu-se uma ferida antiga hoje vivida numa crise
político-militar, cujas formas de ultrapassa-la está a tornar-se num calcanhar
de Aquiles. E conforme o tempo passa, há quem tira proveitos dessa crise,
enquanto o futuro de toda a nação está alienada. Ora, a divergência, o conflito, a crise ou a controvérsia, é
inseparável do homem em sociedade. Aliás é resultado da tendência inata do ser
humano, quando muitas vezes tenta colocar seu interesse acima do interesse
alheio.
O egoísmo é um fator de constatação frequente nas relações
sociais. E muitas vezes justificada pelos direitos que ambos julgam ter em
relação ao mesmo fato, o que conduz a choque das ideias, acabando por dar lugar
a uma crise.
Pelo sim ou pelo não, certo é que já estamos mais uma vez
mergulhado numa crise de proporção muito elevado, onde somos obrigados a ter
saída pautando pelas vias inevitáveis de resolver qualquer desentendimento: ou
as partes se entendem, resolvendo o conflito por concessões recíprocas, ou
então procuram o Judiciário (mediador nesse caso) que dará uma decisão
compulsória e definitiva.
Mas num país como nosso, tao pobre e muito dependente, nunca nos
deve interessar ativação de nenhum mecanismo conducente a uma decisão
compulsória, que dita uma divisão das partes em conflito, e deixar em solta o
ambiente de convivência desagradável. Pela simples razão de sermos um país
muito vulnerável em sobressaltos, derrubes do poder e de matanças com muita
normalidade. Por isso é sempre salutar a tentativa de solução conciliatória e
de acordos que satisfaçam o bem-estar da Republica, ainda que salvaguarde
poupando a vida dos homens e das mulheres dessa nação tao fustigada.
Pode ser incompreensível por muitos, devido a violenta forma usada
para alterar o rumo dos acontecimentos. Só que, a recente minicimeira do
Senegal veio subentendidamente nos mostrar que, um conflito que envolve pelo
menos duas partes, não podemos afirmar categoricamente que uma parte tem toda a
razão e a outra parte totalmente errada. Alias, a longa história da Guine
também nos ensinou, que os homens têm muita dificuldade de se lidar com as
diferenças. E infelizmente quando elas são manifestadas intensamente, os meios
que usamos para afastar as oposições de ideias, foram sempre de eliminações
físicas.
Assim sendo, torna mais complicado quando a origem da crise não
diz respeito só a questões pessoais, mas sim uns ressentimentos que envolve uma
classe. Dai, a busca do consenso é indispensável do qual não se pode obter sem
uma negociação com a parte revoltosa desde que haja vontade dessa última. Foi o que as diplomacias Angolana e Portuguesa não fizeram, e a
CPLP juntou-se na mesma aventura, viajando para as instâncias mais superiores
em vez de primeiro reunir a família antes de fechar a porta.
Resultado; viram-se afastados da bailada, porque o conselho
superior das nações unidas remeteu o poder de dissipar a verdade da mentira,
para uma comunidade regional, ou seja CEDEAO. Agora, deduzo, muitos devem estar
com resignação e de lidar mal com a resolução proferida.
O acordo alcançado na minicimeira de
Dakar, se o prevalecente, é porque verificou-se uma satisfação de parte a
parte. Ou seja, se a CEDEAO conseguiu libertar Raimundo Pereira e Carlos Gomes
Júnior; conseguiu o aval de colocar uma força militar multinacional e reduzir o
período de transição... O comando militar por seu lado, conseguiu deitar a
baixo o governo; conseguiu anular o processo eleitoral em curso e conseguiu
impor um governo de transição embora desta vez por apenas um ano.
Ficando a quem das espectativas as aspirações
de Angola e toda a sua compassa que fartou-se de implorar sem sucesso, ao
Conselho de segurança para mandar uma forca multinacional para Guine, onde a
MISSANG pudesse continuar mudando simplesmente de nome e objetivo, em
detrimento de ver a afirmação da sua capacidade e hegemonia regional a afluir.
E o grande penalizado mais uma vez, é o
povo que vê o seu sacrifício relegado para um futuro incerto. O ano escolar
praticamente em vias de ser nulo. O insuficiente salario mensal que vinha aos
bolsos dos funcionários aos 25 dias de cada mês, já vai em atraso para um tempo
imprevisível. A castanha de caju, que é a base de sustentabilidade familiar, já
está a ser uma campanha de desilusão com a queda de procura e consequente baixa
de preço. Sem falar dos géneros da primeira necessidade que está a escassear a
cada dia
Só que, pela crise que se instalou e as
maneiras para sair dela, reserva-nos momentos que poderá não ser fácil para o
país. Ou seja, se levarmos em conta o cumprimento de acordo de investigação e respetiva
condução a barra de justiça a todos os implicados na rasada de assassinatos
ocorridos ao menos até nesta ultima governação agora interrompida. Conforme a
proposta do comando militar e aceite pelo CDEAO.
Certamente, a agitação político-social
e militar decorrente da movimentação desses processos, vai dar uma consequência
turbulenta que tomara muito tempo a este futuro momento transitório. E o período
de 12 meses será mais uma paragem completa ao processo de desenvolvimento em
detrimento de lavagem de roupa suja com muita nódoa. Porque, certamente, grande mistério
deve andar em segredo, e certamente que muitos ainda virão. Devidas as ocorrências
tristes do passado, cujas manobras e desinteresse conseguiu recalcar e esconder
com sucesso a descoberta da verdade. Agora, pela razão de justiça, abrir esses
capítulos ocultos, os espaços fechados ou liberar os fantasmas do passado...
Não tenhamos dúvidas que isso trará o grande handicap aos nossos propósitos.
Contudo, é muito importante a tomada de
posição firme para acabar com essa barbaridade de tirar vida de pessoas sem dor
nem piedade num país tao pequeno e pobre. Pela simples confiança de a
Guiné-Bissau é uma república de justiça morta ou “apoderada”.
Porque só assim, se poderá dar uma nova
educação aos futuros responsáveis, e criar neles uma consciência de que afinal,
o governar também significa ser o responsável de proteção de vida das pessoas.
Ao nascer essa consciência, julgo que a
velha identidade será perdida, para dar lugar ao semeio de uma cultura
totalmente nova. Ou mesmo que não seja na verdade uma identidade, mas então será
uma nova visão, uma nova perspetiva e uma outra maneira de ver as coisas.
Nós temos que começar a manter fiel com
o que dissemos ser a nossa república e o nosso povo... Porque afinal, já temos
experiências de que, mesmo que alguém possa ser bem-sucedido em manobrar com práticas
ocultas e depois espalhar as mentiras como verdade. Mas a justiça do tempo
acabara por sentenciar a logica dos factos, e demonstrar a realidade do que
aconteceu. Seja como for, hoje, estamos confinados
com essa resolução da CEDEAO que seremos obrigados, perseguidos e controlados
para cumprir... E que vamos cumprir se quisermos livrar dos castigos e das
penalizações internacionais.
Para isso, temos que antes de mais,
suprimir aquele aspeto que se caracteriza de selvagem dentro de nós. Acabar com
o rancor, a ambição pessoal, inveja e tudo o que a sociedade condena, mediante
uma judicatura consistente e responsável. Assim será fácil dizermos "Nós" outra vez, sem
alguma dor por detrás... Usaremos a palavra "Nós" porque ela é
útil para nos identificar, não porque ela está carregada de hipocrisia e
recheada com sentimentos de ódio ou de vingança.
*Licenciado
em Relações
Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa