segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Adidos de imprensa e embaixadores em contra-mão

Fonte: O País (Angola)

Alguns adidos de imprensa das missões diplomáticas e consulares de Angola no exterior queixaram-se dos “maus tratos” que têm recebido dos titulares das embaixadas no exercício das suas funções.
As preocupações dos adidos de imprensa de Angola acreditados em várias países do mundo e em organizações internacionais foram expressas, na terça-feira, 23 , num encontro realizado no renovado Centro de Formação da Angop, reinaugurado, nesse mesmo dia, pela ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira.

Parte das preocupações levantadas pelos jornalistas, que fazem a imagem de Angola no exterior, já haviam sido avançadas no Huambo, durante a realização do Conselho Consultivo do Ministério da Comunicação Social, mas a sua discussão plena e aberta, bem como a procura de soluções, ficaram remetidas para o encontro de terçafeira, a julgar pelas presenças do viceministro das Relações Exteriores para a Administração e Finanças, Carlos Bragança, e de um assistente da Casa Civil do Presidente da República.

Num informe apresentado pelo adido de imprensa no Japão, António Cristóvão Bragança, em nome dos seus colegas, diz-se que em alguns casos, o orçamento é insuficiente, noutros poderá haver um superavit, na medida em que “não têm conhecimento da verba destinada à área de imprensa”.
“Os ministérios das Relações Exteriores e das Finanças enviam mensalmente a quota financeira para cada uma das missões e é discriminado o valor destinado a cada um dos sectores, mas, nem sempre o de imprensa é do conhecimento do adido”.

Estes queixaram-se também do facto de algumas missões consulares não aceitarem efectuar o pagamento das propinas dos filhos dos adidos de imprensa matriculados em colégios.
Segundo eles, existe um decreto em que se esclarece que no caso dos filhos dos diplomatas matriculados no ensino privado, os pais devem pagar 50% do valor, ficando o restante sob responsabilidade da embaixada, o que nem sempre acontece.

Falando concretamente do país onde funciona, o Japão, António Bragança disse mesmo que o pagamento das escolas embora seja de 50%, como diz o decreto, ali, os filhos de outros funcionários da embaixada têm pagos as propinas a cem por cento e de forma adiantada, mas os educandos dos homens de imprensa não.
Tanto quanto se sabe, isso na versão dos homens de imprensa no exterior, o Ministério das Finança já autorizou o pagamento desse tipo de operações, mas na verdade é que a sua execução tarda a ser aplicada, segundo os adidos “devido ao capricho, quer dos chefes de missão, quer dos adidos financeiros, que controlam os orçamentos.” O uso de telecomunicações é outro calcanhar de Aquiles para a vida dos adidos de imprensa. Segundo o porta-voz do encontro, Cristóvão Bragança, há colegas seus que estabelecem comunicações com o país, e não só, com recurso aos seus próprios meios, nomeadamente a internet e os telefones celulares.

“A nossa actividade para além de transversal, não tem horário e muitos de nós trabalhamos justamente até altas horas em casa e depois há diferença de fusos horários nos países em que muitos de nós trabalhamos”, lembrou.
Falta de dignidade
No essencial, o que ficou retido no encontro é que os adidos de imprensa exigem dos chefes de missões no exterior maior dignidade e respeito no tratamento, para que possam cumprir cabalmente com as suas tarefas.
Um dos casos que os adidos de imprensa consideram injusto tem a ver com o facto de viajarem em classe económica, quando os seus colegas militares e, fundamentalmente, os das finanças fazem-no em classe executiva, o que consideram “atitude estranha”, a julgar pelo carácter das actividades que qualquer um deles desempenha em nome de Angola no exterior.
Os adidos de imprensa não deixaram de denunciar as injustiças na atribuição de viaturas. Queixaramse também do facto de não obterem autorização de viagem a Angola, muitas vezes, quando convocados pelo Ministério de tutela.
O caso mais flagrante acontece com a adida de Angola no Reino do Marrocos, que por diversas vezes não respondeu a nenhuma chamada para reuniões em Angola ou mesmo no exterior, “por capricho do embaixador”.
Viaturas causam desamores
Periodicamente, as missões diplomáticas recebem viaturas para os seus funcionários mas, estranhamente, dizem, em algumas delas, os adidos de imprensa não são contemplados.
A adida de imprensa na Suécia, embora ausente do encontro, também é outra que passa por vicissitudes em termos de transporte. Na maioria dos casos circula de metro ou de autocarro para cumprimento das suas tarefas.
As embaixadas da Bélgica e de Moçambique são as únicas que atribuem subsídio de primeira viagem do ano aos seus adidos de imprensa, quando chamados a cumprir missões fora dos países em que estão vinculados, as restantes não beneficiam.
Sobre este aspecto, os adidos de imprensa sugeriram ao vice-ministro das Relações Exteriores para a Administração e Finanças, a uniformização da questão relativamente à atribuição dos referidos subsídios de primeira viagem do ano.
Adidos serão avaliados
Noutra vertente, a ministra Carolina Cerqueira disse que aos adidos de imprensa será exigido um papel mais dinâmico, mais actuante, mais presente na divulgação das realizações do país.
A governante garantiu que o seu pelouro vai continuar a trabalhar com os nossos embaixadores para que possa ter os resultados que nós ansiamos.
Segundo Carolina Cerqueira, o trabalho dos adidos de imprensa será avaliado e anunciou mesmo que “não será mais como agora em que muitas vezes não se nota que há um adido de imprensa de Angola numa embaixada, porque não há informações”.

Esse trabalho, esclareceu, vai ser avaliado sob vários pontos de vista e à medida que for avaliado, “nós também vamos fazer a rotação das pessoas”.
“Estou há pouco tempo no Ministério da Comunicação Social, mas já deu para fazer uma avaliação onde é que eu posso contar com trabalho mais dinâmico, mais penetrante, não só junto das comunidades que estão na diáspora, mas junto sobretudo dos órgãos de comunicação social dos países onde vocês estão a efectuar o vosso trabalho e para fazer a divulgação da nossa realidade no exterior”, disse.

A ministra, a propósito, afirmou   que espera não só ouvir reclamações exigindo condições e privilégios. O seu pelouro vai exigir “um trabalho aturado, um trabalho de especialidade e um trabalho de penetração junto das comunidades , para também colhermos os nossos dividendos.” “Há adidos que não estão presentes, mas é importante essa interacção e tivemos a oportunidade de trazer para aqui a entidade do MIREX que responde por estas questões, por isso vocês têm de entender que temos dificuldades de articulação, orçamentais e vamos trabalhar nisso”, garantiu.

José Meireles
26 de Novembro de 2010