Fonte: BBC
O controvertido site de vazamento de informações Wikileaks começou no domingo (ontem) a divulgar um lote de 250 mil mensagens secretas enviadas por diplomatas dos Estados Unidos.
Até agora, o Wikileaks publicou em seu site 220 de 251.287 documentos dos EUA descritos como cabos – como são chamadas as comunicações entre instituições diplomáticas.
O site entregou antecipadamente os arquivos em sua íntegra a cinco grupos de mídia, entre eles os jornais The New York Times, americano, The Guardian, britânico, e El Pais, espanhol. Leia abaixo alguns dos pontos principais dos documentos divulgados.
Ataque ao Irão
Vários líderes árabes e seus representantes são citados no documento como tendo exortado os EUA a atacar o Irão, para pôr fim ao suposto programa de armas nucleares do país. O embaixador da Arábia Saudita em Washington, Ader al-Jubeir, lembrou os EUA sobre as "frequentes exortações" do rei saudita para atacar o Irã.
Em um relatório de um encontro entre Al-Jubeir e o general americano David Petraeus, em 2008, o embaixador saudita disse que o rei queria que os EUA "cortassem a cabeça da serpente".
O rei Hamad bin Isa al-Khalifa, do Bahrein, teria pedido aos EUA que contivessem o Irã "de qualquer maneira", enquanto o príncipe regente de Abu Dhabi, xeque Mohammad bin Zayed, disse aos EUA acreditar que o presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, iria "levar-nos à guerra".
Espionagem biométrica na ONU
Um cabo endereçado a diplomatas dos EUA emitido sob o nome da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pede que se coletem informações "biográficas e biométricas" - incluindo amostras de DNA, impressões digitais e biometria da íris - de funcionários-chave da ONU. Também foram pedidos dados de cartões de crédito, endereços de e-mail, senhas e descodificadores usados em redes de computador em comunicações oficiais.
Os funcionários cujos dados foram solicitados incluíam "subsecretários, chefes de agências especializadas e seus principais consultores, assessores de alto escalão do SYG (secretário-geral), chefes de missões de paz e de missões de caráter político, incluindo comandantes de forças (militares)".
Estão incluídas nos documentos ao menos nove orientações semelhantes sobre vários países, tanto sob o nome de Hillary quanto de sua predecessora, Condoleezza Rice.
Crise no Paquistão
Os cabos mostram a preocupação dos EUA com a presença de material radioativo em usinas nucleares do Paquistão, que Washington temia ser usado em ataques terroristas. As comunicações revelam que, desde 2007, os EUA vinham tentando remover urânio altamente enriquecido de um reator usado para pesquisas no Paquistão.
Em um cabo emitido em 2009, a embaixadora dos EUA no Paquistão, Anne W. Patterson, diz que o país se recusa a aceitar uma visita de especialistas dos EUA. Segundo ela, autoridades do Paquistão disseram que uma visita seria vista pelos paquistaneses como "se os EUA estivessem tomando as armas nucleares do Paquistão".
China e infiltração cibernética
Os documentos revelam preocupação sobre o suposto uso em grande escala, pelo governo chinês, de técnicas de infiltração e sabotagem cibernética. Alguns dos cabos diplomáticos afirmam que uma rede de hackers e especialistas em segurança foram contratados pela China a partir de 2002, e que essa rede conseguiu acesso a computadores do governo e de empresas dos EUA, além de aliados ocidentais e do Dalai Lama. Os cabos citam um contato chinês que disse à embaixada dos EUA em Pequim que o governo chinês estaria por trás da infiltração do sistema de computadores do Google no país em janeiro.
Planos da Coreia
Autoridades dos EUA e da Coréia do Sul discutiram planos para se formar uma Coreia unificada, no caso de colapso do regime da Coreia do Norte. O embaixador dos EUA em Seul afirma na comunicação que a Coreia do Sul considerava oferecer incentivos comerciais à China para "ajudar a mitigar" as "preocupações da China sobre o convívio com uma Coreia reunificada".
Guantánamo
Os cabos parecem revelar discussões entre vários países sobre o destino de presos libertados da base americana em Guantánamo, Cuba.
A Eslovênia recebe a oferta de um encontro com o presidente Barack Obama se o país receber um prisioneiro, enquanto Kiribati, no Pacífico Sul, recebe a oferta de milhões de dólares em incentivos. Bruxelas recebe a informação de que abrigar prisioneiros poderia ser "uma maneira barata de a Bélgica conseguir proeminência na Europa".
Líderes mundiais
Vários líderes mundiais aparecem nos documentos - mostrando as visões pouco elogiosas que os diplomatas têm deles. O premiêr da Itália, Silvio Berlusconi, é tratado como "displicente, vaidoso e ineficiente como líder europeu moderno" por um diplomata americano em Roma.
Em 2008, a embaixada em Moscou descreve o presidente russo, Dmitry Medvedev, como "um Robin do (premiê Vladimir Putin) Batman". Os cabos também tecem comentários sobre a relação extremamente próxima entre Berlusconi e Putin.
O líder norte-coreano Kim Jong-il é descrito como "um camarada velho e flácido" que sofre com o trauma de um derrame, enquanto o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, é tratado como "Hitler".
O ministro de Relações Exteriores e Cooperação da África do Sul se refere ao presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, como "aquele velho maluco".
EUA pediram a seus diplomatas para espionar líderes estrangeiros
Fonte: AFP
WASHINGTON, 28 Nov 2010 (AFP) -Os Estados Unidos ordenaram a seus diplomatas que atuassem mais ativamente no recolhimento de informações e realizassem tarefas de espionagem, segundo indicam os cerca de 250 mil documentos secretos vazados pelo site Wikileaks, que também revelam as opiniões americanas sobre os líderes estrangeiros e pedidos da Arábia para que o Irã fosse atacado por causa de seu programa nuclear.
Numa primeira reação, a Casa Branca condenou "nos termos mais fortes a publicação irresponsável e perigosa" desses documentos, afirmando que a iniciativa do WikiLeaks poderá fazer com que muitas pessoas corram riscos mortais.
"Que isto fique claro: tais revelações fazem nossos diplomatas correrem riscos", afirmou o porta-voz do presidente Barack Obama, Robert Gibbs.
Os documentos secretos expostos pelo WikiLeaks - e publicados pelo New York Times e The Guardian do Reino Unido, entre outros jornais - revelam que os funcionários do Departamento de Estado tinham ordem de obter informações pessoais de hierarcas da ONU e figuras-chaves de países em todo o mundo.
Os textos se referem a tarefas tradicionalmente reservadas à Agência Central de Inteligência (CIA) e outras agências de espionagem, que foram transmitidos a embaixadas americanas na África, Oriente Médio, Europa Oriental, América Latina e a missão de Washington ante a ONU.
Um dos documentos, por exemplo, enviado aos diplomatas em nome da secretária de Estado Hillary Clinton, em julho de 2009, ordena que sejam obtidos detalhes técnicos dos sistemas de comunicação dos principais funcionários da ONU, indica The Guardian.
Isso inclui palavras-chave e códigos de encriptação pessoais utilizados em redes comerciais e privadas para comunicações oficiais.
O New York Times indica que um documento assinado por Hillary pede a seus funcionários na ONU que obtenham "informação biográfica e biométrica dos principais diplomatas a Coreia do Norte".
The Guardian acrescenta que a ordem também visava ao recolhimento de dados do secretário-geral Ban Ki-moon, em especial sobre "seu estilo de gerenciamento e tomada de decisões como que sua influência sobre o secretariado".
Washington também pede os números dos cartões de crédito, endereços eletrônicos, números de telefone, fax e, inclusive, as contas de passagens aéreas dos altos funcionários das Nações Unidas.
A ordem secreta para obter "inteligência humana nacional" foi enviada às missões dos Estados Unidos na ONU, Viena, Roma e 33 embaixadas e consulados.
As Nações Unidas anunciaram horas depois, em um comunicado, que "não se encontram em posição de comentar sobre a autenticidade do documento".
De qualquer maneira, disse confiar que os Estados membros respeitam a imunidade garantida à organização mundial.
Entre outros temas delicados, os documentos vazados pelo Wikileaks revelam, por exemplo, que o rei Abdullah da Arábia Saudita teria pedido aos Estados Unidos que ataquem o Irã para destruir o programa nuclear iraniano.
O monarca saudita teria pedido que os Estados Unidos "cortassem a cabeça da serpente" e afirmou que trabalhar com Washington para contrabalançar a influência iraniana no Iraque era "uma prioridade estratégica para o rei e seu governo".
Segundo outro documento, Israel teria pressionado os Estados Unidos a adotar uma posição mais firme com relação ao Irã em dezembro de 2009, ao afirmar que a estratégia americana de negociação com Teerã "não funcionava".
As revelações também dizem respeito ao que os Estados Unidos pensariam dos principais líderes mundiais. O chefe de Estado italiano, Silvio Berlusconi, por exemplo, é considerado irresponsável, e suas colega alemã, a chanceler Angela Merkel, "pouco adepta dos riscos e raramente criativa".
Outros funcionários descrevem o presidente francês Nicolas Sarkozy como "suscetível autoritário" e afirmam que o presidente afegão Hamid Karzai é "extremamente fraco".
Um funcionário americano descreve um diálogo com um conselheiro francês que chama o presidente venezuelano Hugo Chávez de "louco" e outro documento que expressa o interesse de Washington por conhecer o "estado de saúde mental" da presidente argentina Cristina Kirchner.
Numa primeira reação, a Casa Branca condenou "nos termos mais fortes a publicação irresponsável e perigosa" desses documentos, afirmando que a iniciativa do WikiLeaks poderá fazer com que muitas pessoas corram riscos mortais.
"Que isto fique claro: tais revelações fazem nossos diplomatas correrem riscos", afirmou o porta-voz do presidente Barack Obama, Robert Gibbs.
Os documentos secretos expostos pelo WikiLeaks - e publicados pelo New York Times e The Guardian do Reino Unido, entre outros jornais - revelam que os funcionários do Departamento de Estado tinham ordem de obter informações pessoais de hierarcas da ONU e figuras-chaves de países em todo o mundo.
Os textos se referem a tarefas tradicionalmente reservadas à Agência Central de Inteligência (CIA) e outras agências de espionagem, que foram transmitidos a embaixadas americanas na África, Oriente Médio, Europa Oriental, América Latina e a missão de Washington ante a ONU.
Um dos documentos, por exemplo, enviado aos diplomatas em nome da secretária de Estado Hillary Clinton, em julho de 2009, ordena que sejam obtidos detalhes técnicos dos sistemas de comunicação dos principais funcionários da ONU, indica The Guardian.
Isso inclui palavras-chave e códigos de encriptação pessoais utilizados em redes comerciais e privadas para comunicações oficiais.
O New York Times indica que um documento assinado por Hillary pede a seus funcionários na ONU que obtenham "informação biográfica e biométrica dos principais diplomatas a Coreia do Norte".
The Guardian acrescenta que a ordem também visava ao recolhimento de dados do secretário-geral Ban Ki-moon, em especial sobre "seu estilo de gerenciamento e tomada de decisões como que sua influência sobre o secretariado".
Washington também pede os números dos cartões de crédito, endereços eletrônicos, números de telefone, fax e, inclusive, as contas de passagens aéreas dos altos funcionários das Nações Unidas.
A ordem secreta para obter "inteligência humana nacional" foi enviada às missões dos Estados Unidos na ONU, Viena, Roma e 33 embaixadas e consulados.
As Nações Unidas anunciaram horas depois, em um comunicado, que "não se encontram em posição de comentar sobre a autenticidade do documento".
De qualquer maneira, disse confiar que os Estados membros respeitam a imunidade garantida à organização mundial.
Entre outros temas delicados, os documentos vazados pelo Wikileaks revelam, por exemplo, que o rei Abdullah da Arábia Saudita teria pedido aos Estados Unidos que ataquem o Irã para destruir o programa nuclear iraniano.
O monarca saudita teria pedido que os Estados Unidos "cortassem a cabeça da serpente" e afirmou que trabalhar com Washington para contrabalançar a influência iraniana no Iraque era "uma prioridade estratégica para o rei e seu governo".
Segundo outro documento, Israel teria pressionado os Estados Unidos a adotar uma posição mais firme com relação ao Irã em dezembro de 2009, ao afirmar que a estratégia americana de negociação com Teerã "não funcionava".
As revelações também dizem respeito ao que os Estados Unidos pensariam dos principais líderes mundiais. O chefe de Estado italiano, Silvio Berlusconi, por exemplo, é considerado irresponsável, e suas colega alemã, a chanceler Angela Merkel, "pouco adepta dos riscos e raramente criativa".
Outros funcionários descrevem o presidente francês Nicolas Sarkozy como "suscetível autoritário" e afirmam que o presidente afegão Hamid Karzai é "extremamente fraco".
Um funcionário americano descreve um diálogo com um conselheiro francês que chama o presidente venezuelano Hugo Chávez de "louco" e outro documento que expressa o interesse de Washington por conhecer o "estado de saúde mental" da presidente argentina Cristina Kirchner.
Notas & Informações
O que é o WikiLeaks: é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sedeada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anónimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis.
O site foi construído com base em vários pacotes de software, incluindo MediaWiki, Freenet, Tor e PGP. Apesar do seu nome, Wikileaks não é um wiki - leitores que não têm as permissões adequadas, não pode editar o seu conteúdo.
Para a postagem, WikiLeaks recomenda vivamente o uso do Tor, visando preservar a privacidade dos seus usuários, e garante que a informação colocada pelos usuários não é rastreável. O site, administrado por The Sunshine Press, foi lançado em Dezembro de 2006 e, em meados de Novembro de 2007, já continha 1,2 milhão de documentos.
No site, a organização informa ter sido fundada por dissidentes chineses, jornalistas, matemáticos e tecnólogos dos Estados Unidos, Taiwan, Europa, Austrália e África do Sul.
Seu diretor é o australiano Julian Assange, jornalista e ciberativista.
WikiLeaks recebeu vários prêmios para novas mídias, incluindo o New Media Award 2008 da revista The Economist. Em junho de 2009, a WikiLeaks e Julian Assange ganharam o Media Award 2009 (categoria "New Media") da Anistia Internacional, pela publicação de Kenya: The Cry of Blood - Extra Judicial Killings and Disappearances, em 2008 um relatório da Comissão Nacional Queniana de Direitos Humanos sobre a política de extermínio no Quênia.
Em maio de 2010, WikiLeaks foi referido como o número 1 entre os "websites que poderiam mudar completamente o formato atual das notícias". Em abril de 2010, WikiLeaks postou, no website Collateral murder, um vídeo feito em 12 de julho de 2007, que mostrava civis iraquianos sendo mortos durante um ataque aéreo das forças militares dos Estados Unidos. Em julho do mesmo ano, a organização ganhou maior visibilidade mundial, ao divulgar o Afghan War Diary, uma compilação de mais de 76.900 documentos secretos do governo americano sobre a Guerra do Afeganistão. No mês de outubro, em articulação com grandes organizações da mídia, Wikileaks publicou um pacote com quase 400.000 documentos secretos, denominado Iraq War Logs, sobre a Guerra do Iraque.