sábado, 13 de agosto de 2011

O conto do tempo


Passaram cinco anos! Este artigo que escrevi na altura para o Jornal Kansaré, precisamente no dia 13 de Agosto de 2006, tem 5 anos de vida e, quando o li hoje, fiquei boquiaberto. Porquê? Porque parece que o tempo não andou, e pior, o “fotografo” de que fala o artigo, continua sendo o mesmo! Leia só...
Vou escrever, um pouco sobre as relações que o tempo tem feito nas nossas vidas. Em África e na Guiné-Bissau, o tempo tem sido muito rude para conosco. Num retrato da  nossa realidade, poderei dizer que somos quase sempre os únicos a parecer mal na fotografia. È como se o dono do tempo que é a pessoa que tira as fotografias, fize-se de propósito, em não nos avisar na hora de fazer o “clik”. 
O tempo tem nos acompanhado para situações de desrespeito pela vida.  Cada um de nós representa uma ilha de amargura e de sentimentos de desesperança. A universalização deu-nos, até hoje apresentações negativas das nossas civilizações. Está-se a vender muito caro a civilização “dominante”. O custo tem sido pago pelas vidas humanas, que não param de tombar. A guerra parece querer ser a nossa companheira fiel. As doenças escondem cada vez mais, às raízes das suas curas.
A fome essa continua a pernoitar, cada palha, zinco ou telha das nossas moradas. Muito dos filhos que o nosso continente, pôs ao mundo, continuam “escravos” embora alguns de forma disfarçada vão utilizando a gravata. Se a imagem é a transmissão visual de cada acontecimento, neste mundo não somos menos vistos que as publicidades da Coca-Cola. Basta o leitor deste artigo, fechar os olhos e tentar imaginar África. O quê que vê? Eu estou a ver a face das crianças da Libéria, da Somália.
Estou a escrever e de repente dou conta que na rádio estão a passar uma música do Bob Marley. A estação chama-se Orbital. Estou em Portugal, num quarto de Hotel numa zona que se chama Saldanha, um dos meus sobrenomes. O Bob está a cantar “war” e diz “until the philosophy which holds/ one race superior and another inferior is/ finally and permanently discredited and abandoned/ Everywhere is war...”
Esta música, tem quase há minha idade. Isso assusta-me! Neste mundo ainda não se conseguiu, restabelecer os desejos de Jesus, e de alguns homens de boa vontade que estiveram não muito tempo aqui na terra, como;  Ghandi, King, Marley e Mandela. Hoje quem somos, senão simbiose. A riqueza está onde nunca saiu. E a “liberdade” tem um preço. Um preço injusto. Este mês, celebram-se mais uma data sobre a Liberdade de Imprensa. Para escrever este artigo, fui consultar alguns sites sobre essa “liberdade” em África. Começo com as vidas que ficaram pelo caminho. Em 2004 morreram 68 jornalistas.

Segundo os Repórteres sem Fronteira, as marcas de sangue ficaram registradas, entre o Médio Oriente onde morreram 26, na Ásia 27 e 15 outros na América. Em África não houve dados de alguns jornalistas mortos. Num continente marcado pela fome, a pobreza ou o flagelo do Sida, os media são uma potencial fonte de desenvolvimento económico e social, palavras que não são minhas, mas sim de analistas e consultores mundiais.
Mas também se sabe que até hoje, os governantes não deram conta dessa utilidade. Perseguem quem por vezes, através da informação, tenta ajudar construir uma sociedade mais Justa e Democrática. Fecham e mandam torturar, aqueles que exigem uma maior partilha, das ditas “riquezas” do país. Alguns até têm medo da Internet. Diabolizam as suas funções e a sua utilidade.

Do outro lado, está a questão da concentração da informação.   Existe nestes tempos, uma forte exclusão nos acessos a informação. Nos dias  em que vivemos é frequente ouvir, quando se fala do mundo a bela expressão “ o mundo é uma aldeia global”.
Quando se fala nos “poderes” da informação hoje, é difícil alguém se esquecer desta expressão “aldeia global”, que nasce com as interpretações do sociólogo canadiano Marshall McLuhan. Onde eu trabalho, em Mansoa,  numa rádio fora da capital do meu país, tenho assistido vários acontecimentos fora de comum. Imaginem que por vezes, os nossos correspondentes regionais, fazem alguns trabalhos relacionados com as grandes datas internacionais e, os trabalhos, demoram três dias para chegar as nossas redações.
Como poderei aceitar esta expressão poética de “aldeia global”, quando existem pessoas que continuam a ser “info-excluidos”. A informação neste tempo em que vivemos é uma riqueza, mas como várias outras está desigualmente repartido pelo globo. Uns têm-nas em abundância outros nada têm.
E à “aldeia global” está preocupada com isso?
A digitalização da informação então, desse nem vale a pena falar ou melhor escrever. Pois só veio aumentar ainda mais, o fosso. Para não falar só de coisas feias neste artigo, relembro aqueles que têm acompanhado os meus artigos, neste jornal, que no Togo, realizou-se as eleições e, o Yadema filho, que no início queria assaltar o poder só porque o pai morreu, conseguiu ocupá-la da forma que todos o pediram, através da ida às urnas.
A suposta tradução do poder do povo. As eleições. Justas ou não, não me cabe aqui julgar. Mas  aceitou realizá-las. Agora só o tempo nos dirá qual será a melhor via para a África. Se realmente a Democracia é o melhor caminho.  Mas claro, quando um conto for bem contado, o tempo não existirá. Isso será quando, sobretudo, todos os humanos dispuserem, dos mesmos meios para obter as informações. E nessa altura a verdadeira Liberdade de Imprensa, sairá, do espaço utópico para que todos os homens no mundo o consigam ver com os dois olhos.