sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Contra políticas traumatizantes eu vou!


É crucial que a sociedade civil se manifeste sem medo! Só assim a qualidade da nossa democracia poderá melhorar. No próximo dia 12 de março, é a vez de a juventude ser ouvida e fazer-se ouvir...


Fonte: Público

A geração à rasca e a (má) política do desenrasca



1. Nas últimas semanas, verificaram-se dois factos sociológicos da maior importância: a revolta justificada (e justificável) da juventude face à precariedade laboral e à falta de perspetivas de futuro; por outro lado, o abandono dos mais velhos, enredados na mais profunda solidão. Diversos comentadores consideraram estarmos perante duas realidades contraditórias: afinal, os jovens são é demasiado pretensiosos, pois eles são beneficiados - os idosos, esses sim, é que sofreram e sofrem as amarguras da mudança radical da sociedade. Este argumento - embora útil às dondocas do nosso regime e do status quo - é de rejeitar liminarmente. A verdade é que a falta de futuro e a ignorância do passado não são realidades contraditórias, que se anulem reciprocamente - pelo contrário, são realidades complementares, que convivem uma com a outra. O que evidencia que Portugal se tornou um país que não cuida e despreza pornograficamente o seu futuro e ignora vergonhosamente o seu passado - somos imediatistas. Só queremos saber do presente. Do hoje. Do agora. E isto reflete-se ao nível político.
 

1.1. Com efeito, as políticas públicas tomadas pelos sucessivos governos (de esquerda ou de direita) são orientadas pela vox populi do momento, para alcançar a máxima popularidade no imediato. Percebe-se porquê: os governos querem ser reeleitos e para tal precisam do apoio popular maioritário. Mais do que pensar e executar reformas estruturais, mais do que tentar antecipar e planear o futuro, os nossos governantes rendem-se aos encantos da sereia do presente. À espuma dos dias. Já repararam que Portugal raramente (nunca?) resolve um problema - adia a sua resolução para data indeterminada, preferindo esconder o problema. Naturalmente, são as gerações que pagarão a fatura. E bem caro! É a mais descarada política do desenrasca - os nossos governantes quando confrontados com problemas sérios a carecer de resolução atiram a batata quente para outros, não considerando sequer o prejuízo para o país que advém de tal atitude. Até na (má) política do desenrasca tem dominado a incompetência - daí estarmos onde estamos, a caminhar alegre e contentes para a bancarrota, com o fantasma do FMI ou do fundo europeu a pairar sobre nós.

1.2. Dito isto, perguntar-me-á: mas porquê a desconsideração dos políticos pelos jovens e pelos mais idosos? Há alguma explicação política? Há. É a seguinte: os políticos convenceram-se que quem determina o resultado das eleições é a classe média, sobretudo na faixa etária superior aos 30 e inferior aos 60 anos de idade. E a sua maioria esmagadora dos nossos deputados correspondem a esse perfil - logo, não é útil, nem conveniente assumir um discurso virado para os jovens, muito menos para os mais velhos. Não é politicamente pagante - pensam os dirigentes máximos dos partidos. Há, pois, um défice de representação política da juventude e dos idosos que se manifesta no seu afastamento no processo de decisão das políticas que os afetam. As juventudes partidárias não têm o peso nem a capacidade de influenciar os partidos que deveriam ter - deveres de solidariedade, de alinhamento conjuntural com o líder partidário do momento, a não atenção mediática em torno das suas iniciativas (muitas vezes, não trabalham para a ter) subalterniza o seu papel e aumenta a desconsideração da juventude portuguesa em relação à participação cívica dos partidos. Pertencer a uma juventude partidária tornou-se um labéu que os jovens não querem ter.

2. Em suma, eu pertenço e estou solidário com a manifestação da "Geração à Rasca", que se realizará no dia 12 de março (Lisboa e Porto). Não quero saber se está conotada com o BE, com o PCP, com este ou com aquele - o que releva é a manifestação espontânea, inorgânica, do descontentamento da juventude. Exteriorizar a discordância e o descontentamento de forma pacífica é participar politicamente. Claro está que vários personagens da esquerda travesti ou da direita tonta vieram já dizer que a manifestação não faz sentido nenhum. Claro: é que esta gente tem uma alergia à intervenção ativa da sociedade civil. Ora, na minha opinião, não há democracia consistente sem uma sociedade civil forte. Sem medo de tomar posição sobre o destino do país. Precisamos de mais iniciativas como a da Geração à Rasca. Pode ser que os políticos percebam - finalmente! - que há vida para além dos jogos florais políticos do costume. Que a juventude seja, pois, ouvida... Portugal também precisa de nós.
 

Nota Ordidja

Estive a trabalhar com recibos verdes, conheço este drama por experiência própria. Por um “destino fatal” diria o meu amigo Waldir Araújo, vou participar nesta manifestação, do dia 12 de março, vestindo a camisola da precariedade, abençoada, pelas políticas de merda que tem sido promovida pela direita portuguesa. Vou participar nesta manif, não pela distorção óbvia dum impulso revolucionário, não! Nem por princípios religiosos, com fome de algo espiritual. Não será por essas causas! Mas sim, vou participar nesta Manif, pelo facto de estar a preparar-me para enfrentar o “Fascismo” de porcelana, que tem caracterizado os últimos anos de Portugal. Vou estar do lado onde quero estar, e vou bater-me por algo que descrimina, explora, maltrata, empobrece, ofusca e entristece um cidadão. De que princípios mobilizadores ou valores preciso, mais??? Preciso sim, duma tenda para acampar na Avenida da Liberdade, para estar de princípio ao fim na manif!