Prezados
colegas e amigos,
Depois
de várias tentativas e injunções, finalmente publico, em solo, um caderno de
poesias. Nesta compilação com o título de Tanamu Fenhi, o meu tema único é a
Guiné-Bissau, o meu país, o país que me interpela com amor e alegria, com
forontas e kasabis que povoam a minha parte na história milenar desta terra
sofrida. Nesta colectânea conto duas Guinés numa só.
Nela canto a Guiné da
esperança consubstanciada na si po di kurpu, ancorada nas suas mulheres
badjalankas, embandeirada na épica resistência à dominação estrangeira, nas
suas bolanhas, nos seus mares, no sorriso da Sindatche e das crianças, e nas
matas onde nos refugiamos e regeneramos incessantemente para os desafios de
amanhã. Entretanto, em Tanamu Fenhi incrusta a República de Kafumban, que é um choro.
Choro muito a minha Guiné, aquela que eu vejo como um menino de criação, uma
mulher sofrida, um lantindan ki na
koi-koi, vítima da própria história, configurada numa República de
complicações, adiando a materialização dos sonhos da Independência.
O
prefácio feito por Geraldo Martins empresta a este livro um valor
incomensurável, pela sua beleza e pela amizade brindada e celebrada em cada
paragrafo daquele introito. Confesso: o prefacio vale mais do que o próprio
trabalho.
A
obra é dedicada à memória da minha mãe, Mamai Monteiro, que me ensinou as
primeiras letras, da Nna Famata Camara que me aturou nos momentos mais
turbulentos da minha juventude, da Nha Diminga, que se tornou minha mãe pelo
casamento, do meu irmão Zike Saiegh que nunca me julgou e nunca me deixou cair,
do Zé Carlos Schwarz e Armandinho Salvaterra cujas vida, obras, postura e
trajetória serviram-me sempre de fonte de inspiração. À memória também, e
sobretudo, do meu campeão, Hélder Proença, com quem ombreei-me para me tornar
poeta e homem.
Prezados
colegas e amigos,
O
objectivo da mensagem de hoje é de vos vender a obra antecipadamente, ao preço
de 5000 XOF o exemplar, na Guiné, e 10 Euros, no estrangeiro. O objetivo da
operação é de financiar o segundo livro - Kerença pertam pitu – que já se
encontra também no Editor. O nome de todos aqueles que aderirem a esta operação
de compra antecipada vai constar na segunda obra a aparecer em Junho ou Julho
deste ano.
Tanamu
Fenhi beneficiou do apoio financeiro do BAO, Ecobank, MaSa Segurança, Instituto
Bentém, Tchitchi Nancassa, Geraldo Martins, Julio Baldé, Luís Cubre, Luís
Cassati e Rui Pais.
Muito
obrigado a todos
Huco
Ordidjanotando
“Huco
Monteiro, ou simplesmente Huco, é nomi
di kasa de João José Silva Monteiro, que participou dos conjuntos
musicais Chave d’Ouro (Nkassa Kobra), Panteras Guinéus e Djorson, ao lado de
Serifo Mané, Ernesto Dabó e Diana Handem. As músicas cantadas por Zê Manel têm
diversas letras que foram escritas por ele. Em 2006 saiu seu longo poema
“Sinais de paz” que, a despeito do título em português, está escrito em
crioulo.
In:
Hildo Honório do Couto, A poesia crioula bissau-guineense. Papia 18, 2008, pp.
83-100.”
Esta
pequena apresentação do mais-velho Huco, que abre esta pequeníssima Nota, foi o
que rapidamente encontrei na NET. Recebi a mensagem deste Post a cerca de 6
dias atrás. Não queria publica-la a seco, sem fazer rodapé, isto porque, de uns
tempos para cá, o Huco tem estado a reescrever em crioulo, não só expressões
populares, mas também sente-se através dos poemas dele uma certa angústia e
magoa. Pelos vistos alguns desses escritos, está finalmente em livro.
O
título “Tanamu Fenhi” suscitou por
estes dias um interessante debate no circulo de amigos que o autor enviou a
mensagem que publico. Vim à saber, afinal, que a expressão foi coptado pelo
crioulo, da língua susso e que
nessa língua não tem nada haver com o significado que o crioulo emprega. Tomo a
liberdade de publicar a interpretação feita pelo próprio autor, respondendo
questão levantada por um outro mais-velho Josué de Almeida, cujo o amigo e
irmão trata por Djossé:
“Djossé,
Tanamu
Fenhi é a forma como os "sussos" se cumprimentam: Ómama, Tanamu
Fenhi. Todavia, no ciroulo da Guiné, esta expressão traduz a inferência subjetiva
de uma potencial situação de briga, conflito, violência, descontrolo, etc. Este
reinvestimento e troca de significados, tem certamente a ver com algum
acontecimento do tipo barrafunda, ocorrido entre guineenses da nossa zona,
nomeadamente os que falam crioulo e os guineenses do outro lado da fronteira
(antes de 1886) ou na nossa fronteira Sul (Tombali), já depois de 1886). Quem
sabe não será durante a preparação da guerra de libertação nacional, que deu
origem a muitos malentendidos entre os oficiais da La Guinée e os nacionalistas
guineenses, levando por vezes a prisões arbitrárias. Seja qual for o caso, os
nossos passaram a associar (recordando/invocando o que se passou) os povos que
utilizam essa expressão com a iminência de alguma conflitualidade
descontrolada. A expressão foi assim naturalizada com o tempo, mas com um
sentido diferente do inicial. Estas trocas de significados ocorrem
frequentemente no relacionamento entre os povos. Os antropólogos falam de
naturalização, empréstimos, mas também pode tomar a forma de indexação,
recaindo sobre expressões (caso vertente), traços culturais (o fanado),
mas também o nome de um povo: pepel (designação portuguesa), balanta
(designação mandinga), mandjaco (aqueles que dizem "mandjao").
Hoje
na Guiné, Tanamu Fenhi é uma expressão muito vulgar e significa Lala quema kau
sukundi ka tem; Barafunda na tem; Kampu Kinti, Padjigada
Este
é o meu singelo entendimento, caro Djossé
Um
abraço
Huco”
Resumindo,
acabei aprendendo mais uma lição do crioulo, e estou ansioso por ter em mãos o
livro e como comentei na mensagem que enviei ao Huco, “Cabeça na kosan, n'misti son
pegal pa lei!!!”