A cruzada do Conselho Federal de
Medicina (CFM) contra ações de saúde do governo federal, iniciada com o
programa Mais Médicos, virou campanha. Menos de dois dias após o lançamento da
ação publicitária do Ministério da Saúde de combate à discriminação racial no
Sistema Único de Saúde (SUS), a entidade divulgou uma nota, na quinta-feira
(27), na qual classifica de “racista” o tom da campanha.
A postura do CFM é totalmente sem
sentido. Isso porque a campanha do governo foi feita, justamente, para mostrar
como os negros são maltratados por parte dos médicos brasileiros.
Dados levantados pelo SUS
confirmam a diferença entre o atendimento dado a brancos e negros nos hospitais
do País, refletido em índices como morte materna, infantil e violência.
Realidade que o CFM insiste em negar. “Com esta campanha o Ministério
da Saúde insinua que o médico e os outros profissionais diferenciam pela raça,
fazem um apartheid, diferenciando o negro do branco”, afirma nota do conselho,
com base no Código de Ética da profissão, onde consta a obrigação de se tratar
a todos com igualdade.
Em resposta a entidade médica, o
Ministério da Saúde alegou, também por meio de nota, que a campanha atende a
uma antiga demanda do movimento negro. “As centenas de comentários
preconceituosos postados nas redes sociais da pasta em resposta à ação reforçam
que é necessário enfrentar esse tema”, informou.
Segundo a pasta, a nova campanha
do SUS pretende acabar com o “racismo institucional” confirmado pelas taxas de
mortalidade materna e infantil na população negra, bastante superiores às
registradas entre mulheres e crianças brancas. Segundo dados do Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) do ministério, mais de 60% das mortes
maternas são de mulheres negras e 47% dos falecimentos registrados na primeira
semana de vida é de crianças negras.
Conscientização – Por conta
disso, no início da semana, o SUS iniciou a primeira campanha nacional de
combate ao racismo entre os usuários e profissionais da rede pública de saúde.
O trabalho é desenvolvido em conjunto com a Secretaria de Direitos Humanos e
traz o slogan “Racismo faz mal à saúde. Denuncie!”.
O estudo revela que apenas 27%
das mulheres negras costumam ter direito a acompanhantes durante o parto.
Enquanto isso, mais de 46% das mulheres brancas acessaram esse direito. O mesmo
foi registrado quando comparado o tratamento dado as parturientes. Somente
62,5% das negras receberam orientações sobre a importância do aleitamento
materno, contra 77,7% entre as brancas.
Os pacientes negros também são
atendidos com menos tempo, recebem menos anestesia, no caso dos partos, e são
mais desrespeitados nas unidades de saúde.
“Essa campanha é um alerta para
os profissionais de saúde e para toda a sociedade brasileira. A desigualdade e
preconceito produzem mais doença, mais morte e mais sofrimento. Nós queremos
construir um país de todos e a maneira mais importante é falar sobre a
desigualdade”, declarou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante o
lançamento da ação.
As denúncias podem ser feitas
pelo número 136, do Disque Saúde, pelo qual também se pode obter informações
sobre doenças mais comuns entre a população.