Por: Caio
Túlio Costa, no Observatório da Imprensa:
A partir
de quarta-feira (13/5), The New York Times, National Geographic, The Atlantic,
NBC News,The Guardian, BBC News, Bild, Spiegel Online e BuzzFeed – oito
monumentos do jornalismo clássico e um monumento da nova mídia – integram o
projeto de publicação de notícias diretamente em suas páginas do Facebook
contra a comercialização de publicidade lá dentro. Os veículos ficarão com
30% da receita dos anúncios incluídos pelo próprio Facebook e com 100% da
receita que conseguirem vender por si próprios no espaço facebookiano.
Ou seja,
os jornais abriram mão de levar mais audiência para seus respectivos sites e
também vão publicar notícias diretamente no Facebook.
Nada
mais correto, monetizar o conteúdo onde está o leitor, como este que vos fala
havia alertado no passado (ver “Um modelo de negócio para o jornalismo
digital”).
Mas,
agora, há indícios de que o Facebook – que cada vez mais é empresa de mídia e
cada vez menos rede social – conseguiu enrolar em grande estilo empresas de
comunicação muito sérias e na batalha para resolver a questão digital.
Ainda se
trata de uma experiência, evidentemente. Enquanto for experiência, o Facebook
vai se mostrar bonzinho. No entanto, o histórico do comportamento tanto de
Mark Zuckerberg na consolidação de seu poder no Facebook quanto o de negócios
da empresa com parceiros, sugere que as publicações que aceitaram este
experimento precisam ficar de pé, perna e braço atrás.
Alerta
de Dante
Quando a
Zynga incluiu o social game FarmVille no Facebook, em 2009, era tudo
maravilha. Como os jornais agora, ela podia comercializar o joguinho
diretamente e levava 100% da renda. Logo que o sucesso chegou para a Zynga, e
a mesma ajudou o Facebook a ganhar audiência (entre 2009 e 2010 o Facebook
ultrapassou a barreira dos mais de 600 mil novos usuários por dia!), o
Facebook decidiu lançar sua própria moeda de comercialização interna e logo
depois reviu o contrato com a Zynga e dela passou a cobrar comissão pelo que
ela própria vendia dentro da plataforma.
Ao mesmo
tempo, restringiu a distribuição dos posts da Zynga. Exatamente como passou a
fazer com todas as marcas e com todos os usuários, obrigando-os a
“impulsionar” os próprios posts. Ou seja: todos tiveram que pagar ao Facebook
para ser mais vistos no próprio Facebook.
A
restrição da visualização dos posts foi aplicada paulatinamente. Hoje,
pasmem, somente de 2% a 4% dos seguidores ou amigos de cada página ou de cada
perfil conseguem visualizar posts que não sejam “impulsionados”. Como o
Facebook diz, é a forma de entregar para os usuários somente o conteúdo de
“alta qualidade”. Qualidade segundo seus próprios critérios, obviamente.
O
Facebook enfrenta problemas como o de continuar conquistando usuários jovens.
Também precisa, desesperadamente, fazer crescer sua receita. Faturou US$ 7,8
bilhões em 2014 contra US$ 66 bilhões do Google, sua Nêmesis. Outro dado
assustador para o Facebook é que, desde que suas receitas são conhecidas, ele
levou oito anos para faturar US$ 7,8 bilhões enquanto que, respectivamente,
em oito anos o Google estava faturando US$ 23,7 bi – três vezes mais.
Uma das
últimas providências do Facebook na faina de buscar desesperadamente mais
receita veio em abril. Fechou os portões para as buscas que empresas de
monitoramento da internet realizavam lá dentro. Obviamente, o próximo passo
vai ser o próprio Facebook vender sua busca interna – e impedir assim que
outros negócios floresçam na órbita de sua narcísica plataforma.
Ou seja,
se der certo a iniciativa de quarta-feira (13), daqui a pouco, quando acabar
a experiência, ou então um tempo depois para não criar tanto atrito, quando
novas publicações forem admitidas e se animarem com a possibilidade de
angariar mais receita com a publicidade comercializada lá dentro, o Facebook
vai fechar a torneira e cobrar uma bela comissão – ou chegar com outra
restrição qualquer. Exatamente como tem feito ao longo de sua história.
Dante já
alertou: no último círculo do inferno não há fogo, e sim frio. Lá ficam os
traidores. Será que, nesta estratégia de abraçar o demônio, os jornais
deixaram para trás toda a esperança quando adentraram aquela porta?
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terça-feira, 19 de maio de 2015
Facebook e o futuro da imprensa
"É melhor que fale por nós a nossa vida, do que as nossas palavras" Ghandi