sábado, 4 de junho de 2011

Propostas valiosas


Propostas Valiosas
Há um outro aspeto. Durante a conferência, para além de terem sido recolhidas “matérias-primas” da forma de pensar, analisar e avaliar do comum guineense, houve momentos de confraternização. Conterrâneos, colegas e amigos que já não se cruzavam na vida, há muito tempo, reencontravam-se com aqueles abraços e mantenhas que de tão calorosas que eram, que só prova aquela máxima de que “os guineenses são fixes” e sabemos confraternizar na Paz.

Entre os guineenses as relações podem ser melhoradas, e vão ser melhoradas quanto mais houver espaços de diálogos e de recolha de conhecimentos de saberes e de opiniões valiosas que serão sempre necessárias. Gostei duma analogia feita por um dos animadores de serviço Dr. Ansumane Sanha, recolhida segundo ele, através duma intervenção dum homi garandi, ou traduzido: ancião, que participou numa das sessões de auscultação lá na terra. Parêntese: vai ser escrita só em crioulo para não destorcer a estória:
Kuma homi garandi lanta i falanu:

- Bodja anôs guineenses, alguin ta Bin i massanu 1º bias, nô ta kala nô dissal…
- I ta Bin i torna massanu 2º bias, nô ta dissal nô findji kuma no ka nota…
- I ta ta torna Bin 3º bias, i torna massanu, nô ta rispundi si dunu, ku suti djan…
- Nô ta justifica gora: ntan i ka tene udju pa i odja kuma i na massanu…

Ami mê, tudu kin ku massan gós son 1º bias, na fala si dunu djanan pa i para, pa i para, pabia i na massan i na findji ka nota, n’tan logo, na aplika diálogo na nha dia-a-dia, pan ka tem ku gueria (briga) ku ninguin…

Ora é um dos maiores ensinamentos das artes marciais, e todos os praticantes dessa arte-de-combate, sabem distinguir um combate duma briga. Aliás existe um dito popular que afirma mesmo: “Um combate não tem nada a ver com uma briga”     
Houve outras intervenções e analogias também interessantes, mas sobretudo houve propostas valiosas durante os três dias da conferência na FDL de Lisboa, com o tema: “ Os caminhos para a consolidação da Paz e Desenvolvimento”.
Tony Tcheca

Uma das propostas que gostaria de partilhar com os leitores, teve a magnitude e chancela do Tony Tcheca, jornalista e escritor com prova e obra dada, quando encetou: “ porquê que a Guiné-Bissau, não vai buscar os excelentes quadros que tem espalhado pelo mundo, para lhes solicitar: consultas, avaliações e planos estratégicos, tanto a nível social como económico e outras mais. Temos guineenses com saberes e experiencias que outros países solicitam a toda hora. Por exemplo em Cabo-Verde, consulta-se frequentemente o guineense Carlos Pinto Lopes, para várias áreas. Temos o caso de Paulo Gomes, que de certeza poderia, dar contribuições valiosas na área económica, sobretudo num mundo onde se está a viver uma crise económica gritante.”

Uf, depois de ter escutado estas palavras, vindos de um mais velho que durante essa semana praticamente, nos encontramos todos os dias, foi aliviante. É que estivemos juntos, dias antes, em Odivelas no lançamento do livro “ Amílcar Cabral – A a Vida e Morte de um revolucionário africano” do Pro. Julião Sousa, outro guineense que também esteve na conferência. 


Adorei a intervenção e as propostas do enfermeiro antigo, Dundu Fernades, gostei das propostas do veterano das lides políticas, Ernesto Dabó, gramei as palavras proferidas por um jovem psicólogo guineense David Fati que pediu “ vamos todos ter mais orgulho na Guiné e nas nossas coisas, eu por exemplo, quando regresso à Lisboa, depois dumas férias passadas em Bissau, trago sempre cascois com a nossa bandeira, artefactos, panos e ofereço aos meus amigos com esta frase: isto é da minha terra”

Estiveram por trás da cortina na organização das listas de intervenções, na operacionalidade do secretariado e em quase todas as frentes, os jovens estudantes guineenses de Lisboa e Coimbra. Ora intervindo, ora animando a sala ora com aquelas “bocas” em coro: “muito beeem” numa réplica pagodiada dos parlamentares portugueses. Os jovens estudantes guineenses foram incansáveis e emanavam aquela energia que só a juventude dá.

Tinham entre eles um espécie de líder, Edmilson dos Santos, que dobrando e desdobrando entre a orientação dos microfones e as inscrições na mesa, de vez em quando entrevia. E numa das intervenções avançou com aquela frase que os estudantes esgotam, de tanto repisar, sobretudo quando estão perante plateias de guineenses: “o governo e o Estado guineense tem que criar condições para o regresso dos quadros e de todos aqueles que estão a estudar e querem regressar para à Guiné-Bissau” afirmou Edmilson dos Santos, que de seguida foi correspondido pela euforia e palmas, da bancada onde se encontravam os pares da mesma geração.
Domingos Simões Pereira

E com esta termino: foi de lá, que paginas tantas, sobre proposta do presidente da mesa e da comissão, deputado Serifo Nhamajo, foi convidado para tomar palavra, o eng. Domingos Simões Pereira, um guineense que despensa apresentações no mundo lusófono. Que num tom coloquial e num timbre amistoso, virou-se para os jovens estudantes, que se encontravam quase todos na ultima fila, encarou-os questionando-os desta forma:

“Compreendo perfeitamente as vossas frustrações ou descontentamento, quando olham para o nosso país e sabem o que vos espera, mas peço que imaginem o que será daqueles vossos colegas, que nunca tiveram oportunidade de sair da Guiné, para vir estudar no estrangeiro. Não será uma exigência malfeita por vezes, quando vemos que os outros nem tiveram essa sanche, e eles por vezes nem reclamam e estão lá a trabalhar, e pior é quando, se regressa e não se leva a inovação ou a mais-valia que se ganhou nas Academias que frequentamos e, se limita a considerar, aquele que ficou, de incapacitado…” E disse muito mais, dando ao mesmo tempo uma lição de humildade valiosa, à geração que ele mesmo sabe que trás sempre um vento novo, uma dinâmica diferente, uma nova forma de…

Próximo episódio: Entrevista com o Professor Fernando Loureiro Bastos, assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau e membro da comissão organizadora.  
Bom Sabat!!!

Fui!!!