terça-feira, 19 de julho de 2011

Cativo sem ódio

Estou aqui como representante dos milhões de pessoas que ousaram insurgir-se contra um sistema social que tem na sua essência a guerra, a violência, o racismo, a opressão, a repressão e o empobrecimento de uma população inteira. Estou também em representação dos milhões de pessoas do movimento antiapartheid espalhadas pelo mundo inteiro, dos governos e organizações que juntaram a nós, não para combater África do Sul enquanto país, mas sim para se opor a um sistema desumano, e pôr rapidamente cobro ao crime contra a humanidade perpetrado pelo apartheid.

Estes incontáveis seres humanos, da África do Sul ou não, tiveram a nobreza de espírito de barrar o caminho a tirania e à injustiça sem tentarem tirar disso o mínimo proveito pessoal. A ferida de um individuo é de todos, e por isso eles agiram em coerência na defesa da justiça e do elementar respeito humano. Graças à sua imagem e determinação ao longo de muitos anos, podemos mesmo, hoje, prever o dia em que a humanidade inteira se reunirá para festejar uma das mais memoráveis vitórias humanas do século.

Quando esse dia chegar, congratular-nos-emos, todos juntos, com a nossa vitória comum sobre o racismo, o apartheid e a supremacia da minoria branca. Esse triunfo encerrará finalmente quintos anos de colonização africana que remonta à instauração do império português. Marcará assim um grande paço em frente na História e ilustrará a determinação comum dos povos no combate ao racismo, seja ele qual for e onde for. 

No extremo austral do continente africano, aqueles que sofreram em nome da humanidade inteira, tudo sacrificando pela liberdade, pela paz, pela dignidade humana e pelo progresso humano, estão prestes a receber uma recompensa incomparável, um presente inestimável.

Esta recompensa não se mede em dinheiro. Nem será avaliada em função do preço dos metais raros e das pedras preciosas desta terra africana que nós pisamos na esteira dos nossos antepassados. Será e deverá ser avaliada em função da felicidade e do bem-estar das crianças, ao mesmo tempo as mais vulneráveis de qualquer sociedade e o mais precioso dos nossos tesouros. É preciso que as crianças possam finalmente brincar ao ar livre na estepe, sem mais serem torturadas pela fome, dizimadas pela doença e ameaçadas por esses flagelos que são a ignorância, a brutalidade e todas as formas de abuso, ou obrigadas a envolver-se em atos cuja gravidade ultrapassa a sua compreensão.

Perante este distinta assistência, comprometemos a nova África do Sul a prosseguir sem desfalecimentos as resoluções definidas na Declaração mundial sobre sobrevivência, a proteção e o desenvolvimento das crianças. Esta recompensa será também, e deverá ser, avaliada em função da felicidade e do bem-estar das mães e dos pais dessas crianças, que devem poder viver nesta terra sem medo de serem espoliados por razões políticas ou materiais, injuriados reduzidos à mendicidade. Também eles devem ser avaliados do fardo pesado que é o desespero, provocado pela fome, pela privação e pelo desemprego.  

O valor desta recompensa para todos os oprimidos será medido, e deverá sê-lo, em função da felicidade e do bem-estar de todas as pessoas do nosso país que tiverem derrubado os muros desumanos que as dividem. Estas grandes massas terão virado as costas ao insulto grave dirigido à dignidade humana, que pretendia designar uns como senhores e outros como servos, e que tinha como resultado fazer de cada indivíduo um predador cuja sobrevivência dependia da destruição do outro.

O valor da recompensa que todos vamos partilhar será avaliado, e deverá sê-lo, em função da paz jubilosa que triunfará, porque a humanidade, que junta negros e brancos em uma só e a mesma raça, quer que cada um de nós possa daqui para o futuro viver como um filho do paraíso. Assim viveremos, porque teremos criado uma sociedade em que todos nascemos iguais e todos teremos direito a uma parcela justa da vida, de liberdade, de prosperidade, de dignidade humana e de bom governo. Uma tal sociedade nunca deverá tolerar que haja presos políticos, nem que sejam violados dos direitos humanos de qualquer pessoa. Assim como nunca deverá acontecer que os caminhos que conduzem a uma mudança pacífica sejam de novo entravados por usurpadores que procuram privar o povo de todo e qualquer poder para atingiram os seus próprios e ignóbeis objetivos[…]

Opinião

Se o leitor quiser, poderá pesquisar na NET, a continuação deste discurso magistral do exemplo vivo para toda a humanidade com nome de nascença de Rohhaba (na língua xhosa significa “aquele que cria problemas) Nelson Mandela. Quando li este discurso (embora não tenha lido muuuitos), tive a noção clara da grandeza e da plenitude duma das intervenções mais marcantes proferida por um africano.

“Mandela, nascido em 1918, é o rebelde que se empenha no combate à injustiça cometida contra negros. Primeiro pela via do direito e da não-violência, como Gandhi, depois a partir de 1944, na ilegalidade e na clandestinidade. É também o cativo sem ódio, que descobre o teatro na prisão e se transforma em homem de Estado pronto para dar provas do seu talento logo que é libertado, numa negociação impossível em que a paciência, a tolerância e a democracia lhe permitem evitar um banho de sangue. É finalmente aquele que renuncia à vigança para personificar uma nação ‘arco.ìris’.”

Estas palavras estão seladas no contra-capa do livro “ Nelson Mandela – Uma Lição de Vida” de Jack Lang (ex-ministro francês, da Cultura) editado pela Bizâncio. Lido num só fôlego! Este livro foi-me oferecido pelo amigo, irmão e camarada Alfa Djaló. Estávamos a passear na última Feira do Livro de Lisboa, quando paramos os dois, em frente à banca da Bizâncio. E quase que atraídos pelo livro, pegamos e começamos a ler o contra capa.

Como já tinha gastado os meus troquinhos em livros infantis, para a rapazeada lá de casa, confessei ao amigo que na próxima visita à feira,  esse livro não tinha hipótese de escapar. O Alfa, riu-se, e continuamos o nosso passeio. Já sentados para tomar um café, ele disse-me que iria procurar um WC. Foi! E quando voltou, disse-me “ Matchu es i pa bô”, não é que o meu amigo e irmão, foi comprar precisamente esse Livro. Muito obrigado Alfa! Deus lhe pague!

Hoje, 19 de Julho, o meu irmão mais velho Edson Araújo (Dinho para os mais chegados) faz anos! Sendo eu um sortudo, pelo facto de ter um Irmão com às características, do Di (como lhe chamo) em que a maior dificuldade que lhe dei (enquanto mais novo) foi sempre de querer viver entre 180-200km à hora, hoje dou-lhe toda a razão, pela paciência que teve comigo, e garanto-lhe que tentarei seguir o seu exemplo de paciência, rectidão e nobreza! Obrigado mano velho!

Por estas e por outras, é que hoje preferi não debruçar, senão estes instantes finais do texto sobre a questão da marcha fraudulenta. Porque para além das bestiais estaladas deontológicas (os números não enganam), focadas no texto sobre o assunto, descobri de forma triste que um “comunicador” não sabe distinguir, o que é criticar e o que é acusar! E quando é assim, penso que não estamos perante um jornalista, nem dum jornaleiro, tão pouco de um banobêro, (editor-mor do jornal di tabanka) pois o nome para esse tipo de profissional é, olha nem sei… Nomes para quê?

Bem-haja