terça-feira, 5 de julho de 2011

Parabéns, Cabo-Verde

Imagem: Liberal/Jornal Já



Fonte: liberal

QUE FAZER COM UM Primeiro-ministro MENTIROSO E “CRIMINOSO”?

As declarações públicas de José Manuel Vaz, o líder da CCSL, colheram de surpresa o País. Não porque, obviamente, tenha dito algo de falacioso ou impróprio, mas sim porque é a primeira vez que um sindicalista chama mentiroso a um primeiro-ministro. E isso é um dado novo que merece ser analisado.

E quer dizer apenas uma coisa: o chefe do Governo deixou de merecer o respeito dos cidadãos, ou, melhor ainda, José Maria Neves (JMN) deixou de beneficiar do temor da sociedade em relação à sua pessoa. Desde logo por ser um mentiroso compulsivo, ademais por, pela primeira vez na história da sua liderança tambarina, estar a ser contestado dentro do próprio partido, cercado, marcado pelo pântano das suas falácias e o lodo das suas contradições.

No entanto, dizer que JMN é um mentiroso é pouco. A promessa do 13º terceiro mês que, insistentemente, dominou a campanha eleitoral – sabendo ele da improbabilidade em a cumprir -, indicia coisa mais grave: “fraude eleitoral”. Ora, quem pratica esse acto não é só mentiroso, é também “criminoso”! Portanto, temos um primeiro-ministro que, para além de mentiroso compulsivo é, também, um “criminoso” relapso!

Perante um cenário destes, com um Governo dirigido por um mentiroso compulsivo e “criminoso” relapso, esperar-se-ia que a Oposição – o MpD e outras forças políticas – e a sociedade civil se movimentassem no sentido de o apear do poder, até com argumentos de natureza jurídico-criminal: “fraude eleitoral”. E, por outro lado, encorpassem um movimento cívico de contestação às políticas de um governo que, de dia para dia, vai colocando os cabo-verdianos de tanga, frustrando-lhes a confiança que depositaram num partido, num Governo e num primeiro-ministro que lhes prometeu um Cabo Verde de desenvolvimento, um “Mais Cabo Verde” e um “Mesti Manti” que só agora se percebe com clareza o que é: mais fome, mais miséria e mais desemprego.

Esta promessa não cumprida do 13º mês é, como é bom de ver, mais uma das aldrabices de Zé Maria. Lembram-se da recente crise da água na cidade da Praia, em que o primeiro-ministro se descoseu em promessas e, ao não vê-las cumpridas, fugiu da cidade e remeteu-se ao silêncio durante dias infindos?

Lembram-se dos dois helicópteros prometidos para a Brava, “encomendados na China e já a caminho de Cabo Verde”? E da construção de um porto de águas profundas em São Vicente? E a privatização da TACV, garantindo ter já “parceiros internacionais interessados”, onde estão eles?

Lembram-se da promessa de acesso gratuito à internet para "servir os jovens que estão longe dos pólos de ensino da Praia e São Vicente"? E dos 500 mil contos para bolsas de estudo para “5 mil alunos carenciados”? Onde estão os computadores Gota d’Água “para todos os jovens que queiram fazer a sua formação superior”?

Lembram-se da promessa de aeroporto internacional e novo porto para a ilha do Maio, logo após a sua vitória eleitoral? E do aeroporto internacional do Fogo, bem como de 8 a 9 aeroportos internacionais? E os 150 mil computadores a estudantes, professores e escolas para “melhorar o capital humano” dos cabo-verdianos? E do do programa “casa para Todos”, visando “construir 8 mil casas e recuperar outras 15 mil até 2011”? E do barco que dava a volta a Cabo Verde em 24 horas? São tantas e tantas mentiras, são tantas e tantas “fraudes”…

Aqui recordamos apenas algumas do arsenal de mentiras de JMN, criatura que deve ter já perdido a noção da realidade, tropeçando de mentira em mentira com o maior dos despudores, sem que ninguém no seu Governo lhe chame à atenção, sem que o Presidente da República alguma vez o tenha chamado à razão, sem que o Procurador Geral da República se tenha permitido levantar um processo, sem que no interior do seu partido alguma reacção se sentisse para além das ovações e do “100 mil vezes Neves”. E, diga-se também, por responsabilidade de uma Oposição demasiado acomodada, estanque às vozes populares, metida em si mesmo na comodidade dos gabinetes da Assembleia Nacional e, salvo honrosas excepções, temerosa de conviver com o povão.

Uma nota final: perante as declarações assertivas e corajosas de José Manuel Vaz à comunicação social, expressamente dizendo “temos um primeiro-ministro que é mentiroso”, seria de esperar, em qualquer Estado de Direito Democrático, que a imprensa fizesse disso tema de capa. Mas, para além de peça aqui publicada e breve apontamento da TCV, nenhum outro órgão de comunicação reproduziu as palavras do sindicalista. E isto só pode provocar preocupante temor: estará a imprensa cabo-verdiana de gatas?

Nota Ordidja

Hoje, à República irmã de Cabo-Verde, está de parabéns. Completou 36 anos de independência. Pois, enquanto aguardo pelo discurso do Doutor Comandante Pedro Pires, prometido pelo amigo e colega Anatólio Lima, decidi fazer uma pequena incursão pela imprensa cabo-verdiana. Foi daí, que dei de cara, com este editorial do jornal online, Liberal.

O tom e a linha deste jornal pareceu-me interessante, tendo em conta o pouco conhecimento do universo jornalístico cabo-verdiano, sempre me pareceu que a ditadura do politicamente correto, imperava nas ilhas. Ou seja, aquela onda do tudo sereno, numa balada de morna, estará a desaparecer? Mas sou falível, logo humano.

Por outras palavras, à má fama de uma comunicação social branda e ao reboque do poder, dilui-se neste artigo. Pois o editor do Liberal, aproveitando à afirmação de um dirigente sindical, reagiu com aspereza, tendo em conta uma promessa eleitoral de um primeiro-ministro e a assunção da sua incapacidade para resolver o problema. Gostei!