sexta-feira, 5 de agosto de 2011

reflexões sobre a paixão

Paixão

Quando a nossa felicidade depende do amor de outra pessoa, ou da ilusão da nossa cabeça de que o que uma pessoa sente por nós é igual ao que sentimos por ela , os dias mais belos e esplendorosos podem de repente tornar-se negros como o carvão .
 E é nessa altura que entra o frio. Se assim é, o que é a felicidade? A ante sala da amargura?  A luxuriante  paisagem torna-se desolada e insípida . A vida é frágil, tudo é por demais incertos. Pisos escorregadios, armadilhas, correntes de nevoeiro, o príncipe que tantas vezes se transforma em monstro e o monstro em príncipe no momento em que o beijamos fundo na boca. Por isso há que celebrar com quem vier e aprender a caminhar sozinhos mas sempre com a dignidade de um bailarino de tango que tem o céu em cima , a terra em baixo e pisa com elegância o solo sem que o mundo lhe pese nos ombros , o que faz com que ande com a coluna direita.
O que acontece é que esse espectáculo tantas vezes  sublime onde parece que se cruzam asas e garras e a luz e a sombra se jogam em êxtase, a todo o momento pode terminar e logo a seguir  o frio, a carência, um cheiro a cinzas e a monotonia. Por vezes quando saía do Barrio Latino, na altura que frequentava mais ao Barrio e andava mais apaixonada par aquilo que me parecia outro mundo cheio de figuras que via doces e aveludadas como o chocolate ( embora África seja sempre uma dimensão da minha alma onde há calor), ao sair, caminhava à beira rio e havia naquela planura, na quietude, uma paz, um inabalável silencio.
A distancia da zona dos bares apagava  ritmo, o frenesim e as esperanças efémeras da noite. E é dessa base silenciosa e calma de que é também composta a nossa vida mas que por vezes temos medos porque faltam as figuras do entretenimento e é um espaço muito aberto, cruamente nu. Talvez se aprendermos a lidar com isto, mesmo quando o objeto da nossa felicidade falhe ou desapareça, nós possamos ainda assim continuar a caminhar elegantemente sobre a vida como um bailarino de tango e transformar a tristeza num perfume de uma nota rara.
Adama