quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Entrevista com Celistino Gomes Fal

                                     Celestino Gomes Fal

Continuamos a dar relevo as entrevistas na Ordidja. Desta vez escolhemos um jovem guineense, Celestino Gomes Fal, natural de Bissau onde estudou no ensino primário na Escola Privado Barão, e depois passou pelo Liceu Nacional Kwame N’kruma, onde estudou o secundário. Frequentou em Portugal à Universidade Lusófona - Humanidades e Tecnologias, o curso das ciências políticas.

Celestino Gomes Fal, faz parte da comissão ad-doc que pretende relançar o movimento político que marcou os primeiros anos da liberdade política na Guiné-Bissau, à Convergência Democrática. Este movimento que conseguiu grandes sucessos de militância na década de noventa, embora como Partido a Convergência Democrática, nunca tenha ganho um único deputado. Mas o PCD, conta ainda com alguns resistentes que pretendem manter aquela lufada de “ar-fresca” na democracia guineense, que foi um marco durante a existência desta formação partidária, que contou com jovens quadros de reconhecido valor na arena política guineense.

A nossa “grande entrevista” tenta saber como está a ser montada a estratégia da juventude da convergência democrática, através da voz do presidente da comissão ad-doc da juventude, Celestino Fal, que actualmente vive na Guiné, num regresso que embora ainda intermitente, já procura onde poderá contribuir valiosamente. Tendo frequentado o curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais, em Lisboa, pretendente neste momento ajudar a revitalizar o PCD, alinhando na dinâmica da juventude partidária como força motriz dos movimentos partidários. Nada melhor do que o próprio leitor ler a entrevista e formar a sua opinião:  

O – Como está a funcionar a Comissão ad-hoc da JCD?
C. F – Estamos muito satisfeito com o trabalho desenvolvido até então, uma vez que tem havido uma aderência massiva da juventude guineense cuja participação tem mostrado uma nova visão e uma nova perspectiva para o futuro. É verdade que o propósito da criação da comissão ad hoc esta a ser alcançada muito mais rápido do que aquilo que tínhamos perspectivado no inicio. Continuaremos a desenvolver o trabalho de auscultar os jovens e as suas estruturas, aproveitando esta oportunidade para a mobilização dos de mais jovens e preparar o congresso.

O – Qual  é plano de acção da JCD? 
C.F – O Plano de acção da JCD, é chegar todas as camadas sociais da juventude guineense, com vista a realização do congresso ante cedendo ao congresso do partido o que permitira a participação dos delegados da jcd na escolha de uma nova direcção partidária bem como na elaboração de um novo estatuto e do novo programa.

O – Qual  deve ser o papel dos jovens para o processo de desenvolvimento do país?
C.F – Os jovens devem ser actor principal em todos os domínios da vida pública e privada do país, porque é a principal força impulsionadora do desenvolvimento da nossa nação, bem como detentores de enorme potencial e uma elevada capacidade na conquista e consolidação da paz. No nosso caso, a juventude representa uma camada maioritária da população, por isso a continuidade do nosso país depende exclusivamente dos jovens. Dai a necessidade da adopção de conjunto de medidas práticas multiformes que visem suprir as actuais carências que isolam a juventude guineense em diversos domínios da vida, mediante políticas concretas capazes de corresponder aos desafios do momento.

O – Os jovens normalmente têm a capacidade de projectar para o futuro as consequências e opções feitas no presente. Quais são para si, as opções políticas do presente na Guiné-Bissau que vão comprometer o futuro dos jovens guineenses?  
C.F – As opções políticas do presente que vai comprometer o futuro dos jovens guineenses são patentes aos olhos de todos, é a desvalorização do ensino e falta de políticas de ensino básico de qualidade e de um plano nacional de saúde pública, o que é agravada com a canalização de quase 70% de (O.G.E) para sector de defesa e segurança, um sector improdutivo.

O – Normalmente o instinto eleitoralista e a falta de visão política tem sido o constante na Guiné-Bissau. Para JCD, quais são as políticas que devem ser adoptadas para criar uma outra visão, um outro acreditar para os jovens guineenses?  
C.F – A política que deve ser elaborada na GB neste momento tem que ser estratégico como forma de articular diferentes agentes de estado e associações com vista atingir as metas estabelecidas no nosso programa nomeadamente: correcta canalização de recursos materiais e financeiras para a promoção da juventude; criação de mecanismos que enquadrem os tempos livres e desporto em geral; reforço da especialização operária e da formação profissional; garantir o direito a juventude de prosseguir a sua formação de acordo com as vocações individuais através de serviço de orientação vocacional; estimular as juventudes dos meios rurais de forma a permanecer nas regiões onde é importante a sua força de trabalho; estimular a promoção de jovens empresários. Elaboração das Políticas de inserção laboral e de combate à precariedade laboral juvenil; de habitação jovem; de educação. Na esfera colectiva: Políticas de informação para o exercício da cidadania; de impulso de processos participativos na esfera pública; de dinamização associativa.

O – O Quê preciso fazer para tirar a Guiné-Bissau do ciclo constante da instabilidade?
C.F – É preciso uma verdadeira reforma das forças armadas que passa não só pela redução do seu efectivo mas também pela recrutamento dos mancebos através de serviço militar obrigatório de forma a evitar a supremacia ética nas forças armadas e desta forma desencorajar as chefias das tentativas de golpe de estado que tem sido o factor condicionador do nosso desenvolvimento, privilegiar dialogo e tolerância como único meio e de resolução de todos os problemas do país, ao mesmo tempo potenciar os recursos humanos, que na minha opinião é a maior riqueza que o país dispõe.

O – Qual é o apelo que fazes aos jovens quadros na diaspora para se engajarem ou aceitarem a Guiné-Bissau como uma missão de todos.
C.F – Na minha opinião sei que não é fácil, devido a falta de programa e da vontade política de governo em criar condições que permitam o regresso dos quadros ao país, permitindo-lhes enquadramento profissional adequado com um salário digno e com promoção independente da coloração partidária ou étnica. Nesta ordem de ideia apelamos aos jovens quadros para que se mobilizem em torno do nosso projecto (terceira via) de modo a podermos todos alterar status quo com a promoção das competências nacionais em detrimento de analfabetismo e do servilismo. A juventude proporá ao partido PCD, caso este ascender ao poder de incluir no programa de governação um plano nacional de desenvolvimento sustentado intitulado (INOV-Jovem) para Jovens Quadros Qualificados, com objectivo de capitalizar todo o conhecimento adquirido no âmbito da sua formação académica, rentabilizar o investimento realizado e maximizar a sua utilidade para todas as empresas nacionais e o Estado, como forma de contribuirmos todos para o nosso país.

O – Quais são para si, as decisões políticas a curto-médio prazo, que podem mudar a realidade guineense?
C.F – Gostaria de ver a curto prazo a juventude guineense mais coesa, para juntos enfrentarmos os desafios eleitorais que se avizinham de modo alcançarmos o desenvolvimento que todos desejamos. O nosso país é muito especial graças a nossa singularidade de hospitalidade e amor do nosso povo, para mim isso é meio caminho para arquitectarmos uma estratégia de desenvolvimento. Aproveito para reconhecer o trabalho feito pelo Governo de sua Exa. Carlos Gomes Júnior, pela perdão da divida conseguida, num momento conturbado, dentro do PAIGC e na classe castrense. Por isso meu obrigado em nome da JCD e obrigado de todos aqueles que querem fazer política para positiva na Guiné-Bissau.