sábado, 9 de março de 2013

A DEPRECIAÇÃO DA MULHER AFRICANA PERANTE AS DEMANDAS DA ACTUALIDADE


Saliatu da Costa

Por: Saliatu da Costa*

Na sua essência e no mais curto espaço do tempo em que previsto, enumeram-se as vitórias da mulher com uma tremenda estupefacção, já que tem superado todas as espectativas e aos diferentes níveis!

As limitações que o passado nos impunha estão a ser ultrapassadas com uma revelação de qualidade que nem dava azo para algo diferente, senão a igualdade!
Foi preciso provar que se pode, podemos! Foi preciso conquistar espaço, conquistámos! Foi preciso lutar para uma equiparação de salário e ainda lutámos. Porém não haja dúvida, está para breve esse amanhecer! Tão breve, que na actualidade da família, o salário da mulher hoje é tão aguardado e valorizado como o do homem! Enfim, viva as nossas conquistas. Todavia, seria deselegante não parabenizarmos os homens, porque sim, eles entenderam o quão melhor é cooperar, respeitar e compartilhar.

Assim, cá vai o nosso sincero agradecimento ao homem actual! Dentre vitórias descritas, factos tristes como a violência contra a mulher e o silêncio que a maioria das mulheres continua a perpetrar, continuam a ser uma triste realidade. Outrossim, repleta de conquistas no recinto profissional e no seio da família, a mulher encontra uma oposição forte não no género oposto, porém na semelhança e não sabe lidar com isso! Engraçado! Como assim? 

Sem dúvida, almejamos e prezamos conquistas profissionais. Mas não é que o amor, a paixão, e o sexo, condimentam sempre mais? Mentira? Claro que não! Pois é exactamente aqui que nós tanto erguemos como caímos! No contexto africano, a mulher encontra uma insuportável rival no seu semelhante e lidar com os resultados da actualidade torna-se um quebra-cabeças!

Vejamos:

1  1.   Um homem maltrata e trai a mulher o tempo todo, a mulher se cansa e responde na mesma moeda. Nós, as mulheres, Julgamo-la leviana! Não seria melhor: carente e vulnerável?

2. Uma mulher que sofre a vida toda num casamento e deixa tudo passar, prezando a constituição da família que idealizou pelos filhos. Nós desprezamo-la! “ Esta também, o marido lhe faz cada uma e ela não reage”, murmuramos! 


3. Uma mulher de 50 namora um rapaz de 28. Dizemos: credo, está a desmamar o miúdo, mas que pouca vergonha! Porém no sentido inverso é possível!


4. O Marido arranja uma amante, a coitada nem queria, mas foi tanta a bajulação que acabou cedendo toda perdida, porque solitária e desiludida. Lá descobre a esposa e decidi dar um raspanete à rival. Mas porque não ao marido? Coisas nossas! 

5. Uma mulher opta por ser doméstica e tratar apenas da família e do lar, nós desprezamos! Mas é algum crime? São opções!

6. Uma mulher faz um aborto, nós crucificámo-la. “ Eu jamais faria”- dizemos!

7. Uma mulher torna-se amante e faz de tudo para sacrificar a esposa, que é tão mulher quanto ela. Decidida a acabar com o casamento da outra, não tem limites para a destruição! Em tempos de guerra vale tudo! Será?


Enfim, são tantas as situações em que a própria mulher enclausura àquela a quem devia entender ou pelo menos tentar!
A mulher africana tem -se revelado muito depreciativa e de má-língua, definhando a vida da outra, enquanto os homens se protegem até nas malandrices que nós conhecemos bem…



Mulher, todas somos e cada uma ao seu jeito ou ao que lhe calhou, mas para mim: a mulher ideal é aquela que luta honestamente pelas suas realizações. Aquela que olha para a sua rival e vê que os seus olhos também brotam lágrimas. Aquela que vê uma prostituta na rua e pergunta silenciosamente: porque será que essa mulher é prostituta! Aquela que ama e entende que o amor implica rir, chorar e gritar. Aquela que não tem complexos e preconceitos. Aquela que não luta para fazer sofrer a outra mulher! Aquela que entende que tudo tem limites e recomeça daí. Aquela que é mãe, mesmo sem parir, aquela que é amiga, aquela que se preocupa com o seu semelhante, aquela que luta pelo direito da Mulher. 



Este é o pensar dessa pobre Mulher, simplesmente mulher.



Bom dia de Mulher para todas as mulheres que se revêm na minha definição de Mulher.

Lisboa, 08/Março de 2013

*Escritora

Ordidjanotando

Embora a semana tenha sido marcada pela morte do Comandante Hugo Chávez, não podia deixar de publicar um post, sobre 8 de março, dia Internacional das Mulheres. Como ando numa onda de muita leitura e pouca opinião, fui vasculhando, lendo e apreciando vários artigos sobre esse memorável dia.
E foi embalado nessa aventura, que fui dar com a  página social do facebook, da Saliatu da Costa.

Quando acabei de ler este magistral texto fiquei estarrecido com cada frase/ideia que a Sali (nome partilhado com os conhecidos) levada pela candura que se lhe conhece, se refere ao papel da mulher. Com tato de uma escritora cada vez mais madura,  Saliatu da Costa, nos leva ao âmago das questões obrigatórias e atuais, que marcam os desafios da mulher africana e provavelmente guineense. Vale a pena ler e refletir sobre cada ideia partilhada no texto, e muito obrigado Sali pela clareza e objetividade.