quarta-feira, 8 de julho de 2015

Maria Barroso. Uma mulher de garra!!!



Fonte: SOL

Em apenas cinco dias, inaugurou uma exposição de fotografia, assistiu durante dois dias a um colóquio internacional sobre política, trabalhou na sua fundação e foi à festa do Colégio Moderno. Nos últimos anos, Maria de Jesus Barroso tinha tantas actividades e causas como quando era primeira-dama. A sua intensa agenda aos 90 anos só foi interrompida quando caiu em casa na noite do dia 25 de Junho, entrando horas depois num coma irreversível que conduziu à sua morte num quarto do Hospital da Cruz Vermelha. O seu corpo ficará em câmara ardente a partir das 18 horas no Colégio Moderno, em Lisboa e amanhã seguirá para Cemitério dos Prazeres. 

Até ao seu internamento e apesar da idade, todos os dias pelas 10 da manhã, Maria Barroso subia os 90 degraus da escadaria da Fundação Pro Dignitate, junto à Basílica da Estrela, em Lisboa, que fundou e à qual se dedicou nos últimos anos. Mal entrava no antigo convento, dirigia-se ao gabinete e sentava-se a trabalhar: assinava cheques, falava ao telefone e revia a agenda da tarde com a secretária. «Era sempre uma agenda muito cheia. A Dra. Maria de Jesus queria ir a todas dar o seu contributo e a secretária tinha de fazer uma selecção sistemática dos eventos», conta ao SOL António Pacheco, secretário-geral da Fundação que se dedica à prevenção da violência e à luta pelos direitos humanos em Portugal e nos países africanos de expressão portuguesa.

Almoçava geralmente em casa, com a família e por vezes com amigos. Mas às 15h já estava de regresso à Pro Dignitate, que criou a 1 de Julho de 1994, ainda antes de Mário Soares abandonar o Palácio de Belém. A rotina só era interrompida se houvesse um evento agendado fora. E havia muitos: inaugurações, aulas, lançamentos de livros ou reuniões.

António Pacheco define-a como «uma mulher imparável, com uma força e uma energia notáveis», lembrando que acordava muito cedo, por volta das 6h30, e às vezes tinha eventos à noite.

Os amigos há muito se questionavam como é que sendo tão frágil conseguia fazer tanto. Nos últimos tempos, Maria Barroso sofria de tonturas e tinha mais dificuldade em mexer-se. Na quinta-feira, dia 25 de Junho, por volta das 22 horas levantou-se da poltrona da sala de sua casa onde via televisão com o marido Mário Soares e foi à sala de jantar, contígua. Caiu desamparada, batendo contra a parede, soube o SOL. Foi Mário Soares quem telefonou aos filhos, Isabel e João, e depois a família contactou o sobrinho e médico, Eduardo Barroso, que a levou ao Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde entrou pelo seu pé.

Horas mais tarde foi-lhe detectada uma hemorragia intracraniana, entrando num coma profundo e irreversível. Só os familiares mais próximos a podiam ver no 4º andar da unidade de saúde e por curtos períodos de tempo. Apesar de só ontem, Maria de Jesus Barroso ter sido transferida para um quarto, houve um vaivém de personalidades que passou pelo hospital, que chegou a disponibilizar uma sala para a família Soares receber as visitas: o líder do PS António Costa, o ex-presidente da República Jorge Sampaio, António Guterres, o ex-ministro socialista Correia de Campos, Isabel de Herédia, e também o Bispo Januário Torgal Ferreira, a actriz Lurdes Norberto, os Embaixadores de Espanha, Angola e de Marrocos, entre outros.

Direitos humanos no centro das suas preocupações
Nos últimos tempos, eram o diálogo entre religiões, a luta pela paz e por um jornalismo ético que a moviam. No dia 24, Maria Barroso, mesmo da plateia, quis intervir no colóquio do Political Forum, organizado pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. «Pediu o microfone para falar sobre o jornalismo ao serviço da paz e dos cidadãos», recorda António Pacheco que a acompanhou ao Estoril. A sua última acção na Pro Dignitate foi a inauguração de uma exposição fotográfica em Odivelas sobre a violência contra as minorias étnicas no Iraque, onde estiveram vários embaixadores de países árabes.

Seu amigo há largos anos, e vice-presidente da Pro Dignitate, Vítor Ramalho, esteve ao seu lado desde que a ex-primeira-dama deixou Belém. Foi seu vice-presidente quando, em Julho de 1997, Maria Barroso assumiu a liderança da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), tornando-se a única mulher entre os 23 presidentes da instituição. Daí destaca a sua tenacidade e capacidade de liderança. «Teve um grande papel na valorização da CVP, tendo feito um belíssimo negócio na compra de outra sede no Campo Grande, que já foi vendida», diz. Foi também «a salvação do Hospital da Cruz Vermelha» o mesmo onde acabaría por morrer esta madrugada, recorda o ex-deputado do_PS: «O hospital estava tecnicamente falido e ela faz uma restruturação financeira e reorganização interna, tornando-o autónomo da CVP».

Vítor Ramalho não tem dúvidas de que Maria Barroso deixou marca na instituição. «Criou mecanismos que permitiram a institucionalização da Cruz Vermelha nos países lusófonos», afirma, lembrando que a então presidente foi nomeada pelo Crescente Vermelho para fazer um inventário das necessidades humanitárias em Angola em 2002, no início do processo de paz. Foi, explica, determinante para perceber como era urgente responder à desminagem naquele país e à fome provocada pela guerra.

Maria Barroso acabaria por deixar o cargo, em 2003, em litígio com o então ministro da Defesa, Paulo Portas, que impugnou as eleições dos órgãos locais da instituição. A mulher de Soares acusa-o de «intromissão abusiva» na eleição e de querer nomear alguém do CDS para a liderança. E bateu com a porta.

Sapatos de salto, mesmo aos 90
Filha de um militar, tinha uma disciplina férrea e era extremamente organizada. Na Praia do Vau, onde a família Soares passava o Verão, fazia até há pouco tempo longas caminhadas pelas sete da manhã, atravessando a praia de uma ponta à outra. «Eram sete quilómetros», diz a escritora Leonor Xavier, que Maria Barroso convidou para escrever a sua biografia, publicada pela primeira vez em 1995.

A disciplina que a caracterizava era visível nos horários rigorosos ou na forma como se alimentava. Não comia carne, jantava sempre pouco, uma sopa com um queijo fresco. Mas gostava de receber os amigos: ao domingo um grupo restrito costumava jantar em sua casa; entre eles estão o embaixador José Fafe, Vítor Ramalho, Júlia Maranha das Neves e o marido Emanuel, ex-bastonário dos Engenheiros. «Tinha gosto em receber», conta uma amiga.

Mantinha o peso de sempre – 46 quilos – e o gosto pelo estético, por estar bem arranjada, nunca dispensando os sapatos de salto alto numa cerimónia. «Ia regulamente ao cabeleireiro e estava sempre cuidada. Nunca tinha uma nódoa, no vestido não havia um vinco. Mas era tudo feito com naturalidade, sem nada de artificial», adianta a jornalista e escritora, que já conhecia Maria Barroso antes de lhe fazer a biografia, e desde então ficou com «um grande afecto» por ela.

Leitora compulsiva, lia muito sobre temas variados e vários livros ao mesmo tempo, sublinhando a lápis e fazendo notas críticas. Na fundação deixou abertas duas obras, ambas de padres: Somos Pobres Mas Somos Muitos, de frei Fernando Ventura, e Nenhum Caminho Será Longo, de Tolentino de Mendonça.

Leonor Xavier recorda que, além de uma grande sensibilidade, tinha disponibilidade para os outros. «As pessoas devoravam-na quando chegava a qualquer sítio», recorda a escritora, lembrando que «falava sempre com toda a gente, mesmo as pessoas mais anónimas».

E muitos continuavam a tratá-la como se ainda fosse primeira-dama. Ana Príncipe, do projecto que quer criar uma nova ala pediátrica no Hospital de São João, no Porto, recorda o dia em que a acompanhou a uma missa celebrada por Manuel Clemente, na altura bispo do Porto. «Quando entrou na Igreja, as senhoras que cuidam do altar, vieram cumprimenta-la e limpar-lhe o banco para se sentar». Em Roma, onde visitou o hospital pediátrico Bambino Gesu, conhecido como o Hospital do Papa, foi recebida calorosamente, quase com honras de Estado.

Dessa viagem, Ana Príncipe recorda outro episódio curioso. O Vaticano estava a abarrotar pois era o dia da canonização de João Paulo II e João XXIII. Chovia torrencialmente e a dificuldade em circular pela cidade levou-a a pedir ajuda a D. Carlos Azevedo, o bispo português que vive no Vaticano, num edifício colado à Praça de São Pedro. «Fomos para casa dele. Acabaram os dois a tarde a recitar poesia. Foi uma tarde super animada». A paixão pela declamação manteve-se. Aos 90 anos, ainda sabia de cor poemas de Sophia de Mello Breyner, de quem foi amiga, e a neta Lilah, de oito anos, já lhe segue as pisadas.

A capacidade de criar pontes entre as pessoas, por vezes em lados extremos, é outra característica que lhe era apontada por quem colaborou com ela em várias causas sociais. Um traço distinto do homem que a acompanhou toda a vida. Às vezes comentava: «Eu bem digo ao meu marido para não pôr tanto fel no que diz». Foi nesse tom apaziguador que se dirigiu a Laura Ferreira, mulher do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, num dia em que se cruzaram num evento no Parlamento: «Ai, minha querida, o seu marido que não ligue ao que o meu diz’».

A antiga primeira-dama, Manuela Eanes, com quem conviveu de perto e falou pela última vez a 2 de Maio, no dia dos seus 90 anos, também realça «a pessoa solidária, humana e uma grande lutadora pela liberdade». A actual presidente do Instituto de Apoio à Criança acrescenta: «Éramos próximas e encontravamo-nos muitas vezes em colóquios, porque tínhamos os mesmos interesses».

Baptizada em segredo já adulta
Na Paróquia do Campo Grande, onde ia assistir à missa das 19h ao domingo, chegava normalmente uma hora antes, e sentava-se no bar a conversar. «Se pudesse ajudar alguém, ajudava», conta Feytor Pinto, pároco da igreja situada no outro lado da avenida onde mora a família Soares. «Dava tempo à paróquia, acompanhando também os estudos de jovens em risco. Já viu o que é ter uma professora de Português como ela?», diz. «Além disso, na altura do Natal em que a paróquia organiza manifestações artísticas, vinha ensinar os leitores a falar ao microfone».

Mas Maria Barroso não foi sempre uma mulher de fé, nem tão pouco uma católica praticante. Filha de um pai anti clerical, aprendeu com a avó materna, em criança, a rezar e a ir à missa. Na juventude ligou-se às causas políticas e, descontente como a Igreja Católica de então punha em prática a doutrina de Cristo, acabou por esquecer-se de Deus, como a própria já confessou. A sua «fé adormecida», contou uma vez, renasceu em Setembro de 1989, quando o filho João sofreu um acidente de avião em Angola. Continua a ler no link a seguir:



Ordidjanotando 

Uma revolucionária, mãe, amiga, irmã, avó, tia, madrinha, humilde, caridosa, meiga, alegre(muito alegre), solidária, combatente, camarada, pacificadora, sensata, conciliadora, tenaz, lutadora, professora, Mulher sem dimensão traduzidas em palavras, embora afirmava sempre com toda a simplicidade, com a frase abaixo.

Aproveito para endereçar com profunda dor, os meus sentimentos às família Barroso e Soares, a todos irmãos, amigos e camaradas da família Socialista aos colegas da Pro-Dignitate e ao irmão, amigo e camarada António Pacheco(meu guru).

Sentidos pêsames da minha Família!

Termino com a frase feito carma"amo tudo o que faço, meu filho…” 

Paz à sua alma!!