Saliatu da Costa
Por: Saliatu da Costa*
Na sua essência
e no mais curto espaço do tempo em que previsto, enumeram-se as vitórias da
mulher com uma tremenda estupefacção, já que tem superado todas as espectativas
e aos diferentes níveis!
As limitações
que o passado nos impunha estão a ser ultrapassadas com uma revelação de
qualidade que nem dava azo para algo diferente, senão a igualdade!
Foi preciso
provar que se pode, podemos! Foi preciso conquistar espaço, conquistámos! Foi preciso
lutar para uma equiparação de salário e ainda lutámos. Porém não haja dúvida,
está para breve esse amanhecer! Tão breve, que na actualidade da família, o
salário da mulher hoje é tão aguardado e valorizado como o do homem! Enfim,
viva as nossas conquistas. Todavia, seria deselegante não parabenizarmos os
homens, porque sim, eles entenderam o quão melhor é cooperar, respeitar e
compartilhar.
Assim, cá vai o nosso sincero agradecimento ao homem actual! Dentre vitórias descritas, factos tristes como a violência contra a mulher e o silêncio que a maioria das mulheres continua a perpetrar, continuam a ser uma triste realidade. Outrossim, repleta de conquistas no recinto profissional e no seio da família, a mulher encontra uma oposição forte não no género oposto, porém na semelhança e não sabe lidar com isso! Engraçado! Como assim?
Sem dúvida, almejamos e prezamos conquistas profissionais. Mas não é que o
amor, a paixão, e o sexo, condimentam sempre mais? Mentira? Claro que não! Pois
é exactamente aqui que nós tanto erguemos como caímos! No contexto africano, a
mulher encontra uma insuportável rival no seu semelhante e lidar com os
resultados da actualidade torna-se um quebra-cabeças!
Vejamos:
1 1. Um homem maltrata e trai a mulher o tempo todo, a mulher se cansa e
responde na mesma moeda. Nós, as mulheres, Julgamo-la leviana! Não seria
melhor: carente e vulnerável?
2. Uma mulher que sofre a vida toda num casamento e deixa tudo passar, prezando
a constituição da família que idealizou pelos filhos. Nós desprezamo-la! “ Esta
também, o marido lhe faz cada uma e ela não reage”, murmuramos!
3. Uma mulher de 50 namora um rapaz de 28. Dizemos: credo, está a desmamar o
miúdo, mas que pouca vergonha! Porém no sentido inverso é possível!
4. O Marido arranja uma amante, a coitada nem queria, mas foi tanta a bajulação
que acabou cedendo toda perdida, porque solitária e desiludida. Lá descobre a
esposa e decidi dar um raspanete à rival. Mas porque não ao marido? Coisas
nossas!
5. Uma mulher opta por ser doméstica e tratar apenas da família e do lar, nós desprezamos! Mas é algum crime? São opções!
5. Uma mulher opta por ser doméstica e tratar apenas da família e do lar, nós desprezamos! Mas é algum crime? São opções!
6. Uma mulher faz um aborto, nós crucificámo-la. “ Eu jamais faria”- dizemos!
7. Uma mulher torna-se amante e faz de tudo para sacrificar a esposa, que é tão
mulher quanto ela. Decidida a acabar com o casamento da outra, não tem limites
para a destruição! Em tempos de guerra vale tudo! Será?
Enfim, são
tantas as situações em que a própria mulher enclausura àquela a quem devia
entender ou pelo menos tentar!
A mulher
africana tem -se revelado muito depreciativa e de má-língua, definhando a vida
da outra, enquanto os homens se protegem até nas malandrices que nós conhecemos
bem…
Mulher, todas somos e cada uma ao seu jeito ou ao que lhe calhou, mas para mim:
a mulher ideal é aquela que luta honestamente pelas suas realizações. Aquela
que olha para a sua rival e vê que os seus olhos também brotam lágrimas. Aquela
que vê uma prostituta na rua e pergunta silenciosamente: porque será que essa
mulher é prostituta! Aquela que ama e entende que o amor implica rir, chorar e
gritar. Aquela que não tem complexos e preconceitos. Aquela que não luta para
fazer sofrer a outra mulher! Aquela que entende que tudo tem limites e recomeça
daí. Aquela que é mãe, mesmo sem parir, aquela que é amiga, aquela que se
preocupa com o seu semelhante, aquela que luta pelo direito da Mulher.
Este é o pensar dessa pobre Mulher, simplesmente mulher.
Bom dia de Mulher para todas as mulheres que se revêm na minha definição de
Mulher.
Lisboa, 08/Março
de 2013
*Escritora
Ordidjanotando
Embora a semana
tenha sido marcada pela morte do Comandante Hugo Chávez, não podia deixar de
publicar um post, sobre 8 de março, dia Internacional das Mulheres. Como ando
numa onda de muita leitura e pouca opinião, fui vasculhando, lendo e apreciando
vários artigos sobre esse memorável dia.
E foi embalado nessa
aventura, que fui dar com a página
social do facebook, da Saliatu da Costa.
Quando acabei de
ler este magistral texto fiquei estarrecido com cada frase/ideia que a Sali
(nome partilhado com os conhecidos) levada pela candura que se lhe conhece, se
refere ao papel da mulher. Com tato de uma escritora cada vez mais madura, Saliatu da Costa, nos leva ao âmago das
questões obrigatórias e atuais, que marcam os desafios da mulher africana e
provavelmente guineense. Vale a pena ler e refletir sobre cada ideia partilhada
no texto, e muito obrigado Sali pela clareza e objetividade.