sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ordem para viver...

                                    Foto: Bruna Polimeni

Escrito no dia 20 de Janeiro de 2011.
Ordem para viver…

Um coro de gente, começando pelas notabilidades da nossa praça, passando pelos digníssimos representantes políticos do nosso povo, terminando em alguma populaça nostálgica e politizada, celebram todos os anos esta data, 20 de janeiro. Se o leitor perguntar o que tem de especial esta data(?),  com apelido de dia dos heróis nacionais, respondo-lhe em três palavras, sem polemizar: dramático, violento e óbvio!

Dramático: A fazer fé, na narrativa dos acontecimentos que ocorreram há 38 anos, duma noite como esta em que escrevo este texto, dia 20, e que partilho com este “laptop”, houve um brutal e cobarde ato de pôr termo à uma vida humana. Um homem, logo humano, de nome Amílcar Lopes Cabra foi morto, sucumbiu para sempre pelas mãos criminosas que ele próprio armou, eliminado por supostos companheiros da mesma trincheira, silenciado por irmãos do mesmo sangue e por fim assassinado por aqueles com que partilhava a mesma ideologia e sonho de independência. Cabral foi um homem singular, embora não sendo único, mas um homem que lutou e fez com que a sua ação se torna-se imortalizado. Isso é Obra! Cabral imprimiu uma tranjetória de vida, ancorada numa causa que se transformou numa Luta, pela Liberdade, pela Dignidade e fundamentalmente pela Igualdade de direitos entre homens na Guiné e no Mundo. O resto, cada leitor já leu e poderá sempre ler se quiser pelo imenso manancial de obras e escritos publicadas, sobre vida e obra de A.C.

Violento: Foi, é e sempre será um ato violento, assassinar! Aliás é uma demonstração pura da violência, tirar Vida humana. E a via de luta escolhida por Amílcar Cabral, e os camaradas que lhe seguiram, tinha um preço. E o preço a pagar pela “surdez” do colonialista português era muito caro, aliás a vida não tem preço. Convém lembrar que à guerra é por si só, um ato de violência. Uma guerra é o duelo onde o diálogo morre e arrasta para sepultura à alegria de viver de todas as vidas humanas circundantes. Hoje 48 anos depois, do inicio dessa guerra, sinto no direito de afirmar que à busca da Liberdade não implica o caráter fátuo do valor da Vida. A vida humana é o bem mais precioso da humanidade. Mas o mundo dos homens ensinámos que desde do inicio dos tempos, que todos aqueles que lutaram pela Liberdade do Homem, foram perseguidos, maltratados, humilhados e em muito dos casos mortos, houve até entre todos esses homens, aquele que foi crucificado, Jesus Cristo. Outros tantos tiveram o mesmo destino, mesmo aqueles que usaram à Não-Violência como forma ou via de luta, por exemplo os casos de Gandhi na Índia ou Martin Luther King  nos EUA .

Óbvio: Para esta passagem vou ter que bloquear a desatenção e amarrar com toda força, todo e qualquer meio de distração, para não ser mal interpretado. Sem relativizar os acontecimentos desse dia mas pô-lo numa perspetiva temporal, é óbvio que o assassinato de Amílcar Cabral foi uma catarse. Foi o ajuste de contas, onde o preço era à Vida! Não sou de certeza o único a chegar a essa conclusão, por isso resta-me apenas contar com a capacidade de perdão que se deve revestir a comemoração desta data. E relembrar que saber perdoar é uma virtude. Perdoe a si próprio pelas coisas que fez e aos outros pelo que lhe fizeram. Saibamos perdoar aos nossos que cometeram atos bárbaros como do dia 20 de janeiro, e outros mais, como aliás, já perdoamos, aqueles que utilizaram a colonização como forma de nos subjugar. E num mundo de tolerância e de Paz que todos pretendemos, à ordem é para viver e não para matar. Que descansem em paz, todos os que deram a vida pela Liberdade do Homem e, entre eles Amílcar Cabral que deu um contributo valioso aos povos que hoje têm o privilégio de ser independentes.