sábado, 7 de janeiro de 2012

Vivinho da Silva e, tranquilo no seu canto

Francisco Conduto de Pina

Mais um abanão. Mais um grito de arma pela madrugada. E depois aquele silêncio acompanhado pela sinfonia da morte. Os títulos de jornais, sites e blogs são os primeiros a assustar. Uns escrevem “Bissau acorda ao som de balas” outros “Bissau a ferro e fogo” alguns “Estado de sítio em Bissau”.    
Quem foi desta vez? Quem tombou? Que arma, ou melhor, que homem de arma em punho se sentiu com tal autoridade?
Depois, já com o sol da manhã no seu pique. O povo desperta! Na rua cada vizinho desfila apenas a sua porta, não se sabe se, deve-se sair à rua para comprar pão para o (mata-bicho) café da manha. Não se sabe se, deve-se começar a pensar em  ir trabalhar, porque os militares tomam conta das ruas. Em almoço então, nem se fala, pois quem sabe, tudo exploda, até à hora do almoço.
Com a existência do celular (telemóvel) entre nós em Bissau, as chamadas se cruzam, os torpedos (mensagens - sms) se espalham, muitos ouvem dizer, poucos escutam falar, as passadas e nobas se entrelaçam num frenesim louco.
Minutos depois, nas primeiras declarações surgem normalmente as primeiras contradições.  
É golpe de Estado! Não, é subversão a Ordem! Não, é levantamento militar? Não, é um grupo de descontentes? Não, é uma crispação entre os homens de armas.
Vem outro e diz, foi fulano que!
Horas depois, aparece outro que afirma, não, foi sicrano que?
Dias depois, a podre “normalidade” aquela anormalidade bem característico da nossa realidade dos últimos anos, desde Junho de 1998L não desde Outubro de 1986L não desde 14 de Novembro de 1980L não desde partida dos tugas  – epá decidam lá pá...
Meses depois se embriaga no cinismo, na hipocrisia e na falsidade, tudo, menos uma certeza com rigor, do que realmente se passou, se bem que aconteceu e fez mais um dia sobressaltado para os habitantes de Bissau.
Na Guiné-Bissau, o Estado devia pagar pelo menos aos guineenses de Bissau, o “subsídio do sobressalto”. Assim parariam de molestar pelo menos psicologicamente os cidadãos.  
Pois é, já reparou, escrevi, escrevi e até agora, não utilizei a palavra INFORMAÇÃO! Tem razão leitor. Mas não utilizei até então essa palavra porque, é o que menos se tem nestas e outras situações e também é o responsável de toda esta tramóia feito texto que trago hoje, aqui e agora.
Adiante...
Pela INFORMAÇÃO que corre, o guineense Francisco Conduto de Pina está foragido. Em local incerto. Em paradeiro desconhecido – A escolha da melhor frase deixo ao seu critério leitor. Pronto. Alias pelas notícias de alguns cibernautas vive-se uma situação de “caça ao homem” (fica em aspas porque na minha opinião o homem não se caça).    
Mas vamos ao que interessa. Não é que, no inicio da noite desta sexta-feira (6), recebi um telefonema do meu amigo, camarada e irmão (fidju di terra – como nos tratamos) Conduto de Pina. É, isso mesmo que acabou de ler. O escritor e deputado Francisco Conduto de Pina, que esteve há três meses aqui em Brasília. Lançou um livro, e prepara pra lançar outro.
Claro que abstenho de relatar na integra a nossa conversa. Mas depois das felicitações habituais deste período, não consegui avançar na conversa sem lhe perguntar se estava bem e em lugar seguro. Pelo que me respondeu:
“Epá já sabes como é a nossa malta, adoram especular... Pura e simplesmente tentei ajudar uma pessoa que me pediu auxílio, o Iaia Dabó, apareceu pedindo-me ajuda. Ele pediu-me que o acompanha-se para se entregar à Policia. E no percurso fomos surpreendidos por um grupo de Policias das Forças Especiais (os angolanos) que pura e simplesmente assassinaram o individuo... Isso é que se passou. Estou aqui em Bissau,   tranquilo, na minha casa.”
Fiquei... Nem lhe pedi para repetir, porque escutei bem e pela voz dava para entender essa tranquilidade. O homem está vivinho da Silva e, tranquilo no seu canto!
Agora pergunto? Que tipo de INFORMAÇÃO, é feita em Bissau?
INFORMAÇÃO sem rigor e responsabilidade, pensará o leitor. E tem razão!
Bom fim-de-semana, Fidju di Terra!
Aquele abraço amigo e irmão...