quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Em memória do Zé Manel e do Hélder

Dr. Augusto Paulo

É com grande pesar e tristeza que soube do desaparecimento físico do Zé Manel e do Hélder num espaço de tempo assim tão curto. O quanto tinham ainda para viver e dar a família e ao país o que de melhor sempre possuíram.

Neste momento de dor e da angústia que partilho convosco, estas duas figuras foram e continuarão na minha mente para sempre e não é para menos. Isso porque uma parte da minha infância-adolescência decorreu no mesmo bairro – o de Mindará onde eles cresciam e desenvolviam debaixo da tutela da mãe, a saudosa D. Dina, antes de mudarem, creio em 1966 ou 67, para o bairro de Varela-Chão-de-Papel.

Em Mindará recordo que, sobretudo eu e o Zé Manel, de um lado, éramos do Sporting, e do outro, o saudoso Zé António que era um ferrenho do Benfica. Aos domingos, íamos à missa na Sé Catedral de Bissau e à tarde ao cinema na UDIB. Também recordo o quanto apreciávamos os filhoses da D. Dina, mulher galinha que muito batalhou para “criar” os seus filhos. Que grande orgulho ela tinha por eles com aquela fala mansinha, mas carregada de determinação! Ainda sinto o toar muito parecido das suas vozes. Uma herança ímpar! Eu para eles era Marcos e não Augusto Paulo, um interposto do meu pai que na altura não conhecera. Também fui criado pela minha mãe.Como ela e a D. Dina trocavam visitas, atrevo-me a dizer que foram amigas e confidentes.

A última vez que estive com o Hélder, foi há uma coisa de 2 anos ou menos. Estava de viatura e parei para cumprimentá-lo numa rua, arredores de Meteorologia, daquela que é perpendicular a um dos portões do estádio de futebol Lino Correia, ex-Sarmento Rodrigues. Como aceitou a minha boleia, descemos a rua abaixo.

Lembro-me muito bem da nossa conversa.Não foi sobre nós e a família, nem sobre o país como é habitual, mas sobre a música: tocava no carro um CD com a música de Franco de OK Jazz e isso nos fez viajar atrás aos idos tempos em que víamos dançar, pendurados nas janelas, os nossos adultos.

Ainda prometi ao Hélder que lhe faria uma cópia da música, mas não passou dessa promessa. Como a viagem era tão curta, só nos permitiu debicar as nossas saudades daqueles tempos de Mindará antes do nascimento da nossa República da Guiné-Bissau. O Hélder desceu do carro. Despedimo-nos e ele entrou numa vivenda de centro de Bissau. Nunca mais o vi.

Ai que saudades:das nossas mães! Dos tempos de “cadjús e de mangus”! Da escola! De relatos de futebol no rádio! De claques do Benfica contra Sporting e vice-versa. Da espera das nossas mães que regressassem de “Fera diBandi” porque traziam sempre qualquer coisa de “pêga barriga” enquanto cozinhassem o saboroso almoço. Que amor e proteção nos davam! Mas que tamanha saudade!
José Manuel Saldanha e Hélder Saldanha

E eis que o Zé Manel e o Hélder me deixaram. Estou triste mesmo!
Para ambos, é muito pouco o que eu conseguiria verter. Mas guardo isto deles para sempre! Como é maravilhoso sentir tais saudades! Eu só queria desta forma, honrar a alma deles e partilhar esta memória com a família que também considero minha, sem ambiguidades.

Que as suas almas descansem em paz!

Marcos/Augusto Paulo.
Petrópolis. Rio de Janeiro. Agosto de 2013.