sexta-feira, 12 de junho de 2015

Não fosse a chuva…




Não fosse a chuva, a minha conversa com o meu amigo galo de nome Bob, seria tomada pela noite adentro. Conversamos de tudo, fizemos um verdadeiro diagnóstico, das mazelas da sociedade guineense, começamos pela cultura, culinária, química, sentimentos, paixão, economia, tempo, desporto, país, canseira, capoeira, governo, corrupção, paz, rei, amor e terminamos na família.  Gostei do argumento do meu amigo de que “a nação estava a ponto de ser construída, necessitando, entretanto, de uma modernidade moral.”

Contar aqui, o conteúdo ou suco de cada um dos temas que citei, levar-me-ia a escrever um jornal no mínimo com 16 páginas. Resumindo, queixamo-nos especialmente da complacência da nação em relação ao sustento das malhas dos boatos.

Tive uma tarde muito tranquila e alimentada por frutíferas reflexões sobre as raízes das constantes curto-circuitos políticos. Foi muito inspirador!

Ao regressar à Bissau, já passava das 20h e 30m, nessa hora, a chuva tinha dominado por completo a atmosfera. Choveu bem uns 30 minutos, à vontade!

Feito à rotunda do aeroporto, notava-se que a estátua do AC estava limpinha. Mais uns 2 km de estrada, recebo uma chamada:

- AlÔooooooooooo

(…)

Depois das mantenhas, e saudações habituais a pessoa que me ligou, chutou:

Interlocutor: - bu sibi kuma, “tal flano” prindidu???

- N’ka sibi bá!!! Kuma kê???

Interlocutor: - nudadi di bindi passaporti…

Depois de um silêncio, dou conta, que estávamos a passar em frente ao palácio do governo. Vejo as luzes da parte central, todas acesas, estavam também muitos carros (4x4) estacionados, no perímetro da entrada. Respondo finalmente ao meu interlocutor.

- Mbê, parci djintis di guvernu na fassi horas extras, ahós!

Interlocutor: - pabia

- I purmeru bias kun na odja e na tarbadja tê di noti…

Interlocutor: - tarbadja di noti??? bardadi kampu kinti!!! Kkkkk

Calei-me…depois de um breve silêncio, reparo que estamos a passar pelo antigo Hospital 3 de Agosto. Viro a cara e dou conta que frente a Mesquita ainda estão as tendas do hospital de campanha do reino de Marrocos. Nota-se que estão completamente encharcadas. Haja vista sua grande lucratividade e considerável ganho político. E não fosse a chuva a minha conversa ao telefone, desbocava para o enredo de uma peça de teatro grego!!! E dois seriam os seus principais ideais, o de um país igualitário e justo.

- Falan dê, ntan marroquinos, bin nan pa fika???

Interlocutor: - fala so si ±1 okupaçon silenciosa…

- Okupaçon kê??? n’kai ku garassa: KKKKKKKKKKKK

Interlocutor  - ma djintis di terra di homis di honra (burkinabes) ku ta bisia palácio na bai djanan...i mindjor nô papia dipus, barudju di tchuba, nkana obi nada ku bu na papia…

Respondi de pronto - n’ka papia nada (!) ami gossi n’ta papia só kil kun odja!!!


Desliguei o telemóvel, veio-me a memória a minha conversa com o meu amigo galo de nome Bob, sobretudo, uma sapiência única mostrando que, o génio que criou o slogan deste governo não teve em conta apenas, a falsa originalidade, mas também uma inteligência medíocre. 

Porque se a expressão "terra ranka" era popular então como sublinhou o meu amigo galo de nome Bob:

“Terra ranka, pa kai na iagu…”